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A Terrível Sina do Dr Pompilho de Albuquerque

Jefferson Sarmento

Letra

    E-eu, um cara são, de boa índole e feliz
    Me apaixonei perdidamente por Inácia Serrão
    Dessas paixões que te consomem o ar
    Dessas que desterram seu chão
    Mas Inácia se casou com o Barão de Alquidar
    E meu amor morreu silente e afogado em meus "ais"
    Desenganado pela vida e sem saída eu me vi
    Caçando bares nas vielas do cais
    Mas eis que numa noite sem ter pra onde ir
    Eu me embrenhei num desses antros de luxúria e perdição
    E conheci uma matrona traiçoeira e vigarista
    Que também queria o couro do Barão
    E me contou que quando era ainda tenra a juventude
    Moçoila de família, casta, linda, angelical
    O tal Barão lhe prometeu mundos e fundos e sumiu
    Deixando Odete nessa vida infernal

    Depois de sete taças de absinto e dez cigarros
    Já éramos amigos, feito cão e carrapato
    E traçamos, na maldade, uma vendetta cruel
    O tal Barão ia morrer feito um rato!
    Odete Emerenciana tinha amigos obcuros
    E um deles ajudou em nossa torpe ambição
    Num frasco escuro o Cafetão misturou
    Mil venenos mais fatais que o amor
    Naquele carnaval todo pasquim anunciou
    Que o barão ia de novo receber na mansão
    Em sua festa à fantasia ia ter fim a nossa angústia
    A tratantada era matar o Barão!
    Naquela noite fria eu me vesti de Valente
    Minha espada afiada e meu escudo reluzente
    Era o perfeito cavaleiro andante de armadura
    Pra salvar minha donzela da amargura

    Mas, ó, destino ingrato, amaldiçoado Barão
    Que na hora de seu brinde foi trocando de mão
    De taça em taça eu me perdi na gargalhante multidão
    Já não sabia quem ganhara a poção
    À meia-noite em ponto, toda a infame fidalguia
    Refestelava-se no enorme salão
    Desesperado, percebi que minha Inácia gemia
    E se tremia com a taça na mão
    Será que então se cumpriria aquela sina cruel?
    Teria eu assassinado Inácia Serrão?
    E deixado todo o dote da abastada família
    Pra deleite do asqueroso Barão!
    Saí da festa às altas, procurando meu chão
    E fui me abrigar nas águas da arrebentação
    E me afoguei às tantas horas e morri amargurado
    Arrebatado por ter sido o vilão!

    De posse inquestionável de minha morte infiel
    Expulso até da estrebaria do céu
    Minha alma atormentada então passou a vagar
    Só em boteco, pardieiro e bordel
    Mas saiba que a nós, almas penadas e sem lar
    Não é dado o poder de comer ou beber
    De fato, nem de Odete eu podia aproveitar
    Morto não come, bebe ou pode copular
    E foi então que na manhã do outro dia eu li
    Vagando a esmo meu fantasma nas calçadas do Leblon
    Na festa do Barão teve lugar um dramalhão
    Morrera envenenado o copioso anfitrião
    Aparvalhada, a minha assombração correu-se dali
    Atravessando muros, portas e paredes da mansão
    No quarto aveludado do finado barão
    Eu vi Inácia e encontrei a explicação

    Deitado em sua cama estava o vil cafetão
    Comemorando alegre a inusitada situação
    Amantes desde sempre os dois tramaram mais que eu
    Mas que ingrato esse tal destino meu
    Enganado por Inácia, por Odete e o Cafetão
    Carregando nos meus ombros minha sina fatal
    Escolhi passar a morte assombrando o casarão
    Eu e o meu amigo, o Barão!


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