Salmos 70

Urgência, justiça e fé em “Salmos 70”, de Joel Soares

“Salmos 70”, de Joel Soares, costura o Salmo 70 a ecos do Salmo 31 e ao clamor evangélico ao “Filho de Davi”, transformando a súplica em cena de resgate e de tribunal espiritual. É uma adaptação direta do Salmo 70, centrada no pedido urgente de ajuda e justiça: “Apressa-te, Senhor” e “Sejam envergonhados e confundidos os que procuram a minha vida” apontam para a pressa e para a inversão esperada contra os perseguidores. A sequência “Em ti, Senhor, confio, nunca seja eu confundido/Inclina os teus ouvidos para mim e salva-me” remete textualmente ao Salmo 31, reforçando uma confiança ativa: Deus é convocado a ouvir, agir e livrar. O tom é de aflição real — “Estou cansado... A minh’ alma grita” — sustentado por fé e pertença: “Pertenço a Ti (não demores, Senhor)”.

A narrativa implícita mostra alguém acuado por uma “multidão” que acusa, enquanto invoca o “Filho de Davi” — título messiânico usado nos Evangelhos por quem buscava cura e misericórdia — e recorre a Deus como “Meu Advogado”. Essa imagem jurídica, somada à pressão pública, abre duas camadas: um conflito humano concreto e a experiência espiritual de culpa ou opressão, em que Deus/Jesus atua como defensor (ecoando 1 João 2:1) e juiz justo. As metáforas são diretas e próximas: “apressa-te” pede intervenção imediata; “estende a tua mão” visualiza o resgate de quem afunda; “inclina os teus ouvidos” traduz atenção íntima ao clamor. O efeito emocional é de urgência serena: a dor aparece sem disfarces, mas a repetição de confiança — “Em ti, Senhor, confio... Livra-me na tua justiça” — estabiliza a emoção e converte a aflição em certeza de cuidado e resposta.