If I Ever Get Around To Living

Vida prática em “If I Ever Get Around To Living”: urgência

“If I Ever Get Around To Living” funciona como uma carta que John Mayer escreve para si mesmo, dividida em três seções que vão da ideia à ação. A voz em coro repete “When you gonna wise up, boy” (Quando você vai cair na real, garoto), uma cobrança interna que o puxa do devaneio adolescente — “Maybe it’s all a dream, I’m having at 17 / mother will be calling me” (Talvez tudo seja um sonho que estou tendo aos 17 / minha mãe vai me chamar) — para o mundo concreto. Mayer contou que se inspirou em “Wooden Ships”, de Crosby, Stills & Nash, buscando uma “suíte” com mudanças de clima; não à toa, a imagem de “sail away” (zarpar/partir) ecoa essa influência e transforma “partir” em movimento real. O narrador admite que tem vivido na própria cabeça — “You are hiding in your mind / searching for a sign” (Você está se escondendo na sua mente / procurando um sinal) —, exatamente o padrão de teorização que o artista disse querer abandonar para se tornar “mais humano”.

A letra converte o desejo de mudança em gestos concretos: “put my things away” (guardar minhas coisas), “take the love I’m given and set it free” (pegar o amor que me dão e libertá‑lo) e “tie it up to every morning and sail away” (prendê‑lo a cada manhã e zarpar). A repetição de “free” (livre) reforça a busca por autenticidade. O verso dos 17 anos guarda uma ambiguidade melancólica: pode ser um flashback que explica a raiz do adiamento ou a sensação de estar num sonho antigo que nunca vira ação. No palco, a canção às vezes se estende por 12 minutos — algo que Mayer comenta com carinho —, o que combina com a ideia de habitar o presente e deixar a música respirar. No fim, o movimento é claro: sair da mente que calcula demais, aceitar as incertezas e dar o primeiro passo, ainda que pequeno, rumo a uma vida de fato vivida.