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Algorítmico

Jorge Mendes

A carne moída na lata de gente
Cabeça espremida no tédio da espera
O olho na luz pra poder não pirar, respirar
No célere cérebro meu celular
Célula
Cela-elo, selo cerebral
Sou ela, a tela, e além dela não passo de nau à deriva

A vida, o amor e o mundo revelam-se em vídeos que pipocam
Imagens dos outros são minhas imagens
Mensagens em série
Em séries, filmes, jogos, canções
Prazer em dosadas porções
Na medida do aperto das horas

Lá vou eu, perdido do mundo, onde eu?
Perdido do tempo, quando eu?
Perdido na rede, que sou eu?

Lá vou eu, perdido do mundo
Onde eu, perdido do tempo
Quando eu, perdido na rede que sou eu

Instantâneas notícias
A resposta mais precisa, a certeza mais cabal
Das minhas e meias verdades do bem e do mal
Tudo que eu quero
Carro novo, móvel novo, tudo novo, tatuagem
Maquiagem, viagem, viagra, dinheiro na mão
Na palma da mão um romance, uma arma
Um calmante, um consolo, a morte do não

Lá vou eu, perdido do mundo, onde eu?
Perdido do tempo, quando eu?
Perdido na rede, que sou eu?

Lá vou eu, perdido do mundo
Onde eu, perdido do tempo
Quando eu, perdido na rede que sou eu

Eu sigo meu instinto animal
Mas minha pulsão é pós-vital
Sou, serei super-eu, serei super-homem virtual
Sem carne ou cabeça, só olho e desejo, ciclope-cloaca
Enredo sem fim nem começo
Existência sem medo de não mais estar por aqui nem agora
Agora serei 100% a presença mais bruta da ausência de mim

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