Era Uma Vez

Infância e esperança em "Era Uma Vez" de Kell Smith

"Era Uma Vez", de Kell Smith, explora de forma sensível a saudade da infância como um refúgio diante das dificuldades da vida adulta. Um dos pontos centrais da música é a comparação entre as dores físicas da infância e as dores emocionais da maturidade, expressa no verso: “Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido”. Inspirada em conversas da própria artista sobre as lembranças da infância, essa frase mostra como, apesar dos pequenos machucados e conflitos, a leveza e a simplicidade daquele tempo tornavam tudo mais fácil de superar.

A letra cria um ambiente nostálgico, onde a imaginação era ilimitada — “milhões de mundos e universos tão reais quanto a nossa imaginação” — e os problemas eram resolvidos com gestos simples, como um colo ou um beijo. Kell Smith escreveu a canção a partir de experiências pessoais e conversas com amigos, o que explica a autenticidade e emoção presentes em cada verso. O videoclipe, que mostra crianças brincando em uma cidade do interior, reforça essa sensação de retorno a um tempo em que a felicidade era encontrada no caminho, e não apenas no destino final: “entender que ela mora no caminho e não no final”.

Além da nostalgia, "Era Uma Vez" traz uma mensagem de resistência à dureza do mundo adulto. A música sugere que é possível manter a esperança e a sensibilidade mesmo após “descobrir que o mundo ficou mau”. Kell Smith, que enfrentou desafios pessoais como depressão e o diagnóstico de autismo, usa a canção para lembrar que não se deve normalizar a maldade e que preservar a magia da infância é um ato de coragem e autoconhecimento. Assim, a música convida o ouvinte a resgatar a inocência e a alegria das pequenas coisas, mesmo diante das adversidades da vida adulta.