King Kunta

Resistência e autenticidade em "King Kunta" de Kendrick Lamar

Em "King Kunta", Kendrick Lamar se coloca como herdeiro de uma tradição de resistência negra, usando a figura histórica de Kunta Kinte para simbolizar sua luta contra a opressão e as tentativas de silenciamento. O refrão “Everybody wanna cut the legs off him” (Todo mundo quer cortar as pernas dele) faz referência à punição brutal sofrida por Kunta Kinte, mas também serve como metáfora para os obstáculos e ataques que Kendrick enfrenta ao conquistar espaço e poder na indústria musical. Ao se autodenominar "King Kunta", ele reivindica não só sua coroa, mas também a herança de luta e superação do povo negro americano.

A música também critica a falta de autenticidade no rap, especialmente quando Kendrick questiona rappers que usam ghostwriters: “I can dig rapping, but a rapper with a ghost writer / What the fuck happened?” (Eu entendo o rap, mas um rapper com um ghostwriter / O que aconteceu?). Ele valoriza a originalidade e a honestidade, deixando claro que prefere ser considerado um fracassado a se vender por fama. A expressão “yams” aparece como símbolo de poder e sucesso, mas também das tentações e armadilhas que acompanham a ascensão social, como em “The yam is the power that be / You can smell it when I'm walking down the street” (O inhame é o poder que existe / Você pode sentir o cheiro quando estou andando na rua). O uso de samples e referências a clássicos do funk e do hip-hop reforça a conexão de Kendrick com suas raízes em Compton e com a tradição musical negra. "King Kunta" é, assim, um manifesto de orgulho, resistência e autenticidade, onde cada verso carrega múltiplos sentidos e uma postura desafiadora diante do sistema.