Nun danket alle Gott

“Nun danket alle Gott”: Gratidão, paz e fé em meio à guerra

Escrito por Martin Rinkart em meio à guerra e à peste, o hino escolhe agradecer antes de pedir. A fórmula “mit Herzen, Mund und Händen” (com o coração, a boca e as mãos) define um louvor integral — afetivo, verbal e prático — que contrasta com a dor concreta que o autor vivia, com perdas e funerais diários. Na primeira estrofe, a providência de Deus “an uns und allen Enden” (sobre nós e por toda parte), ativa “von Mutterleib und Kindesbeinen” (desde o ventre materno e desde a infância), derrama benefícios “unzählig viel” (incontáveis). Não é euforia: é fé mantida quando o tecido social colapsa, o que sustenta o tom sereno de gratidão.

A segunda estrofe passa à súplica por “ein immer fröhlich Herz und edlen Frieden” (um coração sempre alegre e paz nobre), que pode significar paz interior e também paz pública — leitura moldada pela Guerra dos Trinta Anos. “In seiner Gnad erhalten fort und fort” (que, em sua graça, nos sustente continuamente) pede preservação constante, enquanto “uns aus aller Not erlösen hier und dort” (que nos livre de toda aflição aqui e lá) abre o duplo sentido: alívio nesta vida e salvação eterna. Por isso, o canto coube em vitórias e celebrações, como em Leuthen (1757), sem perder a raiz de confiança no cuidado divino.

A doxologia final é trinitária: “dem Vater und dem Sohne” (ao Pai e ao Filho) e “dem, der beiden gleich im höchsten Himmelsthrone” (àquele que é igual a ambos no mais alto trono celeste) apontam ao Espírito, culminando em “einig höchsten Gott” (ao único e altíssimo Deus), eterno “anfänglich war ... und immerdar” (que desde o princípio foi ... e para sempre). Essa cadência agradecimento–súplica–louvor consolidou o uso litúrgico, reforçado pela melodia de Johann Crüger e por releituras como a cantata BWV 192 de Bach. A interpretação por Kinderlieder preserva essa arquitetura para ouvintes jovens: gratidão integral, busca de paz verdadeira e confiança no sustento de Deus agora e sempre.