Boca

Superação e realidade urbana em “Boca” de Leviano

Em “Boca”, Leviano utiliza a repetição da frase “muito tempo na boca, agora eu tô enchendo a toca” para criar um duplo sentido marcante. De um lado, “boca” faz referência aos pontos de venda de drogas, enquanto “toca” pode ser entendida como um esconderijo ou, simbolicamente, a conquista de um espaço próprio. Essa transição reflete a mudança de vida do artista, que saiu de um passado difícil para alcançar conquistas, como ele mesmo destaca em “eu vim de baixo e conquistei meu posto”. A trajetória de Leviano, que já vendeu chocolates em ônibus para sobreviver, se conecta diretamente à narrativa de superação presente na música.

A letra mistura elementos do cotidiano das periferias, como em “sempre fugindo dos homi, sempre na vida loka”, com referências à ostentação e ao prazer, exemplificadas em “uma pretinha, uma loira, é de me dar água na boca”. O uso de gírias e menções a drogas, como “lean, wok, é tudo que eu tenho no estoque”, reforça o cenário urbano e o retrato realista da juventude que busca alternativas para sair da marginalidade. Leviano também ironiza a postura de quem “fala que mata mas ninguém mata, na vida real ninguém morre”, desmistificando a violência e mostrando que a luta diária é mais sobre sobrevivência do que glamourização do crime. O tom confessional aparece em versos como “eu não durmo e meu corpo dói, mas se eu sei que minha filha dorme, eu só preciso de uma caixa, uma voz, uma loc, uma nove e um nome”, revelando a motivação pessoal do artista: garantir o bem-estar da família e conquistar respeito por meio do talento. “Boca” é um retrato honesto das dificuldades, escolhas e conquistas de Leviano, transformando experiências reais em arte através do trap.