Lalange (part. Milton Nascimento)

Infância, dor e esperança em "Lalange (part. Milton Nascimento)"

Em "Lalange (part. Milton Nascimento)", Liniker explora a busca pela própria criança interior, inspirada por um sonho em que retorna à creche Yolanda Opice. Esse reencontro ganha ainda mais significado ao se conectar com a homenagem a Miguel Otávio Santana, menino negro cuja morte trágica em 2020 expôs a vulnerabilidade das infâncias negras no Brasil. O verso “Comecei a procurar minha criança / Eu lembro que procurei todas as crianças carecas / Porque assim eu achei que eu me encontraria mais rápido” mostra o desejo de resgatar a inocência e a identidade, ao mesmo tempo em que destaca a urgência de reconhecer e valorizar essas infâncias, muitas vezes invisibilizadas ou interrompidas precocemente.

A repetição de “Chorando, o menino queria voar / Saudade do colo, mainha cadê? / Parece um sonho, mas dói” traz à tona tanto a saudade e o desejo de proteção materna quanto uma referência direta ao caso de Miguel, simbolizando a ruptura dolorosa desse vínculo. A participação de Milton Nascimento, visto por Liniker como uma figura ancestral, reforça a importância do acolhimento e da memória coletiva para pessoas negras. Os arranjos da Brasil Jazz Sinfônica ampliam a atmosfera sensível e nostálgica, transformando a dor em partilha e resistência. Assim, "Lalange" se torna um lamento delicado, mas também um gesto de cuidado e solidariedade diante das perdas e desafios enfrentados.