Massive

“Massive”: confronto interno e recaídas em Linkin Park

Em “Massive”, o pronome you soa menos como um ex-parceiro e mais como uma parte tóxica de si mesmo — hábito, voz interna ou padrão de autossabotagem —, deslocando a narrativa de uma ruptura externa para um confronto íntimo. Quando surge “Now I’m floating and controlling in this state of grace” (Agora estou flutuando e controlando nesse estado de graça), a catarse parece menos triunfo e mais torpor controlado, entre alívio e dissociação.

A letra encena um ciclo de recaída e tentativa de corte: “You can’t really change the person you’ll be / The least I can do is cut myself free” (Você não consegue mudar quem você vai ser / O mínimo que posso fazer é me libertar) marca a aceitação de limites e a escolha de se afastar do que adoece. O refrão repete o pesadelo — “I heard the screaming in my dreaming every night” (Eu ouvia os gritos nos meus sonhos todas as noites) — e a autoilusão persistente — “I’m still mistaking you for right” (Ainda confundo você com o certo). Há a máscara do funcionamento cotidiano — “I’ll carefully choose the words… and try to pretend it, all is okay” (Vou escolher cuidadosamente as palavras... e tentar fingir que está tudo bem) — e o custo disso — “Broke myself” (Eu me quebrei). Já “save some pace” (manter algum ritmo) também pode soar como “save some face” (salvar a face), abrindo leitura dupla entre seguir adiante e preservar a aparência.

Gravada nas sessões de Meteora (2002) e lançada apenas na edição de 20 anos, “Massive” recupera a autorreflexão turbulenta daquele período do Linkin Park e, com os vocais de Mike Shinoda, explicita a tensão entre controle e colapso no processo criativo. O fato de Shinoda ter tentado revivê-la em Minutes to Midnight, mas a banda decidir não olhar para trás, reforça o recorte de fase: a pressão interna é massiva, a narrativa gira em torno de soltar esse peso, tropeçar nos mesmos padrões e, quando possível, achar um respiro provisório.