Baticum de Bará

Ritualidade e ancestralidade em “Baticum de Bará” de Lucio Sanfilippo

“Baticum de Bará”, de Lucio Sanfilippo, explora a presença de entidades afro-brasileiras como Bará, Eleguá e Exu, indo além da referência religiosa para destacar sua importância como símbolos de resistência cultural e celebração da ancestralidade. Termos como “baticum”, “sembá” e a menção ao “baobá” reforçam a conexão direta com ritmos, danças e elementos africanos, mostrando que a música é tanto um convite à dança quanto uma afirmação de identidade.

A letra cria uma atmosfera ritualística e rítmica, começando com “O dono do corpo quer dançar”, sugerindo que a dança é uma expressão vital e espiritual. Expressões como “Mavambo na barra do dia” e “No semba, Bombogira samba” misturam referências ao amanhecer e à dança, enquanto “Aluvaiá alivia” invoca proteção e abertura de caminhos, associada a Exu/Bará. A canção alterna entre o sagrado e o cotidiano: “Bará é boca que tudo come” faz referência a Exu como mensageiro e devorador de oferendas, e “Menino travesso é Eleguá” destaca a dualidade de inocência e travessura dessa entidade. O verso “Na gira quem tranca a rua é homem” reforça o papel de Exu como guardião dos caminhos.

Na segunda parte, a música aprofunda o simbolismo com saudações e pedidos de licença às entidades: “Elegbara vodum / Exu Odara, Agô iê!”. “Ará do Orum no aiê” fala da presença dos ancestrais no mundo terreno. O trecho final, “No tempo sem tempo que tempo tem / Acerta a pedra que não lançou / A pedra do tempo vai e vem / Num pássaro que já voou”, usa metáforas para abordar a circularidade do tempo e a ancestralidade, mostrando como as tradições africanas seguem vivas e em movimento na cultura brasileira.