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Romance de Rosa Plena

Luiz Carlos Borges

LetraSignificado

    A Rosa que foi de muitos
    Agora é Rosa de um só
    China de casa montada
    Na ruazinha arredada
    Onde macegas e ventos
    Bailam vestidos de pó

    Vozes lhe batem à porta
    E a chamam de rapariga
    Rosa disfarça, não liga
    Cerra as cortinas e os olhos
    Se adentra dentro de si
    Custou-lhe chegar ali
    Na sala quatro por quatro
    No quarto quatro por três
    No dar-se sem entregar-se
    No quarto quatro por três
    A quem a toma e em troca
    Lhe paga as contas do mês

    Não mais a gueixa sem marca
    Sempre pronta pra mais um
    Não mais mansa de arreio
    Mordendo o ferro do freio
    Sem refugar a nenhum

    Não mais a noite indormida
    Vendendo carne e mentira
    Por notas de cem mil réis
    Não mais o batom cereja
    Rindo na boca cansada
    Mordida a cuspe e cerveja
    No roxo dos cabarés
    Disso ficou-lhe a lembrança
    A cicatriz, a memória
    Os episódios da história
    Escrita a tinta de vinhos
    Na carne das meretrizes
    Nunca esquece de onde veio
    Quem chega e planta raízes

    Semente ao vento plantou-se
    Quem fora terra de planta
    Para a semente dos machos
    Agora só um a tem
    Quando vem a quando a quer
    Só um se aninha em seus peitos
    Para exercer o direito
    De dono de uma mulher

    Mas a noite é de recuerdos
    É de silêncios que gritam
    De arremessos e uivos
    De cães danados no seio
    E ele, seu dono, não veio

    Não veio para tomá-la
    Ferí-la de pluma e garras
    Rasgar-lhe o ventre onde canta
    Todo um verão de cigarras
    E Rosa, transfigurada
    Por ventos de danação.

    Volta a ser quem Rosa era
    Desnudo o corpo vestido
    Por lençóis de solidão

    Mãos de fogo nos lunares
    Dos seios de clara carne
    Sob os macios do lençol
    Rosa, a de ontem, se assoma
    Nas chamas vivas que a tomam
    Toda de sal e de sol

    Entre cambraias de gelo
    Rosa em brasa se levanta
    Na cama que a emoldura
    Como num quadro de santa
    Arde-lhe a carne madura
    Na noite propiciatória
    E Rosa goza-se impura
    Tomada pela memória

    Rosa de pétalas rubras
    Rosa plena, dela só.

    Composição: Aparicio Silva Rillo. Essa informação está errada? Nos avise.

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