Samba-Enredo 2018 - Com Dinheiro Ou Sem Dinheiro, Eu Brinco

“Samba-Enredo 2018 - Com Dinheiro Ou Sem Dinheiro, Eu Brinco”

Há um jogo consciente entre mensagem e prática: ao afirmar “com dinheiro ou sem dinheiro”, a Mangueira, em 2018, também utilizou a Lei Rouanet. O ponto não é recusar recursos, e sim afirmar que o carnaval não depende deles para existir. Sob o enredo de Leandro Vieira, a escola respondeu ao corte de 50% imposto por Marcelo Crivella e transformou a avenida em tribuna popular: brincar vira direito, não concessão. A letra convoca a memória dos “antigos carnavais” e da inventividade na falta — cetim barato, comunidade que se vira —, resgatando o sentido popular do desfile da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ). Nesse tom, ancestralidade e “consciência” iluminam a resistência; a escola se afirma “voz do povo” e reivindica a rua como espaço legítimo da festa, apesar de cortes, censuras e preconceitos.

As imagens do cotidiano sustentam que o samba nasce onde o povo está: o botequim vira “escola de vida”, garfo e prato viram tamborim, e o improviso se torna arte — a beleza criada com poucos meios. Quando o canto diz “a rua é nossa por direito” / “derrubar esse portão”, a passagem para a avenida simboliza romper barreiras sociais e políticas. O “morro desnudo e sem vaidade” sambando “na cara da sociedade” expressa orgulho sem luxo, enquanto “levanta o tapete e sacode a poeira” mira as hipocrisias e os silenciamentos da cidade. No fim, a promessa é direta: se faltar fantasia, sobra alegria; se faltar instrumento, bate-se na lata — elo entre a tradição de resistência dos desfiles antigos e o presente. Até o título ecoa a marchinha “Eu Brinco” dos anos 1940, reforçando a inevitabilidade da festa: com apoio ou sem ele, a Mangueira brinca, canta e exige respeito.