Ceniciento

Cenicienta

Ceniciento

Os quinquilleros já não me queremLos quinquilleros ya no me quieren
E os morcegos nunca vêm me verY los murciélagos nunca me vienen a ver
E as neves de ontem pratearam minhas têmporasY las nieves de ayer platearon mis sienes
Igual ao Gardel, e esse geloIgual que a Gardel, y este hielo

Que contigo não sabe o que fazerQue contigo no sabe qué hacer
Se derreter ou se quebrar de novoSi fundirse o volverse a romper
Me vestiu de medoMe ha vestido de miedo
Por isso cimenta meus pésPor eso cimento mis pies

Os pregadores estão me procurandoLos pregoneros me andan buscando
As hojiblancas estão que não vivem por verLas hojiblancas están que no viven por ver
Se eu pular do trem, cheio de tombosSi me tiro del tren, colmado de tumbos
E voltar a ficar ao seu ladoY vuelvo a volver a su lado

Como um arroio pródigo de rumComo un pródigo arroyo de ron
Que seca ao sentir seu calorQue se seque al sentir su calor
Que come as horasQue agusane las horas
E arranca o avental do céuY al cielo le arranque el faldón

E me sentei à mesaY me he sentado a la mesa
Daqueles que beijam pela última vezDe aquellos que besan por última vez
Presentando brasas que queimam a peleRegalando pavesas que incendian la piel
Morrendo de sedeMuriendo de sed
Que roubaram da LuaQue han robado a la Luna
Seu cobertor e seu berço pra me ver crescerSu manta y su cuna por verme crecer
Sem pressa nenhumaSin prisa ninguna

O galinheiro quer me quererEl gallinero quererme quiere
Eu não me deixo e, de longe, ouço pulsarYo no me dejo y, de lejos, lo escucho latir
Que se só me vi não foi por safadoQue si solo me vi no fue por bellaco
Foi por teimoso e agourentoQue fue por cerril y agorero

E, embora quisesse mudar de corY, aunque quise cambiar de color
As agulhas disseram que nãoLas agujas dijeron que no
Que nasci ceniciento e seráQue nací ceniciento y será
Cenicienta minha vozCenicienta mi voz