Lengua Filosa

Parece que están diciendo
Por toda la vecindad
Que tengo lengua filosa
Lo mismo que yarará

Filoso tengo el oído
Y veo en la oscuridad
Y pasa que pasa mucho
En un pueblo que es tan familiar

Pa’ ver visiones
Beatas hay a montones
Yo en cambio digo
Lo que vi tras el postigo

Cosa que di por cierta
Si era mentira que me caiga muerta
Y tanta sinceridad
Quién me la agradecerá
Digo siempre la verdad
Y así me va

Parece que están diciendo
Que vivo en la ociosidad
Ocioso es quien ve y no mira
Quien oye sin escuchar

Estoy requete ocupada
Con ropa para lavar
Que hay mucho trapito sucio
En un pueblo que es tan familiar

Pa’ la tijera
Hay sastre y hay peluquera
Yo soy honrada
No corto ni agrego nada

Cosa que di por cierta
Si era mentira que me caiga muerta
Y tanta sinceridad
Quién me la agradecerá
Digo siempre la verdad
Y así me va

Lengua Filosa

Eles parecem estar dizendo
Em todo o bairro
Que eu tenho uma lingua afiada
A mesma coisa que vai

Afiado eu tenho o ouvido
E eu vejo no escuro
E acontece que muita coisa acontece
Em uma cidade que é tão familiar

Para ver visões
Beatas existem em abundância
Ao invés eu digo
O que vi atrás da veneziana

O que eu tomei como certo
Se fosse mentira que eu caí morto
E tanta sinceridade
Quem vai me agradecer
Eu sempre falo a verdade
E por aí vai

Eles parecem estar dizendo
Que eu vivo na ociosidade
Ocioso é quem vê e não olha
Quem ouve sem escutar

Eu estou muito ocupado
Com roupa para lavar
Que há muito pano sujo
Em uma cidade que é tão familiar

Para a tesoura
Tem alfaiate e tem cabeleireiro
Eu sou honesto
Eu não corto ou adiciono nada

O que eu tomei como certo
Se fosse mentira que eu caí morto
E tanta sinceridade
Quem vai me agradecer
Eu sempre falo a verdade
E por aí vai

Composição: Maria Elena Walsh