Eram Dois Ou Mais

Marginalidade e resistência em “Eram Dois Ou Mais” de Marina Iris

“Eram Dois Ou Mais”, de Marina Iris, retrata de forma direta a realidade de personagens marginalizados em um cenário urbano, onde amor e violência se misturam. Logo no início, versos como “Eram dois ou mais / Era uma nega, um albino e um rapaz” apresentam figuras diversas e excluídas, reforçando o ambiente de exclusão social. O álbum “Virada”, do qual a música faz parte, propõe o amor como ato revolucionário, e aqui isso aparece de maneira ambígua: o afeto surge em meio à brutalidade, como no trecho “Esse gozou a carícia dos punhais”, em que prazer e perigo se confundem, mostrando relações marcadas pela violência e pela necessidade de sobrevivência.

A letra utiliza imagens urbanas fortes, como “Muamba, navalha e coisas dessa laia / Pó branco por debaixo da saia”, que remetem ao tráfico, prostituição e criminalidade, compondo um retrato cru dos submundos cariocas. Referências históricas, como “março de 64”, aludem ao golpe militar, enquanto menções a “Alcatraz” e “Barrabás” ampliam o sentido de marginalidade e condenação. O “tridente na mão de satã” simboliza um ambiente dominado por forças destrutivas, mas também pode ser lido como metáfora para a luta diária desses personagens. No final, a união improvável entre os personagens diante da adversidade, expressa em “a mão negra de esperma do destino / Colou-se à mão branca do assassino / Fugiram no breu da escuridão”, sugere resistência e busca por recomeço, reforçada pela saída “do esconderijo das pedras de Yemanjá”, evocando proteção e renascimento ligados à divindade do mar.