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Ode Ao Pão

Mário Viegas

Letra

    Pão
    Com farinha
    Água
    E fogo
    Te levantas
    Espesso e leve
    Reclinado e redondo
    Repetes
    O ventre da mãe
    Equinocial
    Germinação
    Terrestre

    Pão
    Que fácil
    E que profundo tu és
    No tabuleiro branco
    Da padaria
    Estendem-se as tuas filas
    Como utensílios, pratos
    Ou papéis
    E de súbito a onda
    Da vida
    A conjunção do germe
    E do fogo
    Cresces, cresces
    De súbito
    Como
    Cintura, boca, seios
    Colinas da terra

    Vidas
    Sobe o calor
    Inunda-te
    A plenitude
    O vento
    Da fecundidade
    E então
    Imobiliza-se a tua cor de ouro
    E quando já estão prenhes
    Os teus ventres
    A cicatriz escura
    Deixou sinal de fogo
    Em todo o teu dourado
    Sistema de hemisférios
    Agora intacto és
    Ação de homem
    Milagre repetido, vontade da vida
    Ó pão de cada boca
    Não Te imploraremos

    Nós, os homens
    Não somos mendigos
    De vagos deuses
    Ou de anjos obscuros
    Do mar e da terra
    Faremos pão
    Plantaremos de trigo
    A terra e os planetas
    O pão de cada boca
    De cada homem, em cada dia
    Chegará porque fomos
    Semeá-lo e fazê-lo
    Não para um homem
    Mas para todos
    O pão, o pão
    Para todos os povos
    E com ele o que possui
    Forma e sabor de pão
    Repartiremos: A terra
    A beleza, O amor

    Tudo isso
    Tem sabor de pão
    Forma de pão
    Germinação de farinha
    Tudo
    Nasceu para ser compartilhado
    Para ser entregue
    Para se multiplicar
    Por isso, pão
    Se foges
    Da casa do homem
    Se te escondem
    Se te negam
    Se o avarento
    Te prostitui
    Se o rico
    Te armazena
    Se o trigo
    Não procura sulco e terra
    Pão
    Não rezaremos
    Pão
    Não mendigaremos
    Lutaremos por ti

    Com outros homens
    Com todos os famintos
    Por todos os rios, pelo ar
    Iremos procurar-te
    A terra toda repartiremos
    Para que tu germines
    E conosco
    Avançará a terra
    A água, o fogo, o homem
    Lutarão junto a nós
    Iremos coroados
    De espigas, conquistando
    Terra e pão para todos
    E então
    Também a vida
    Terá forma de pão
    Será simples e profunda
    Inumerável e pura
    Todos os seres terão direito
    À terra e à vida
    E assim será o pão de amanhã
    O pão de cada boca
    Sagrado
    Consagrado

    Porque será o produto
    Da mais longa e dura
    Luta humana
    Não tem asas
    A vitória terrestre
    Tem pão sobre os seus ombros
    E voa corajosa
    Libertando a terra
    Como uma padeira
    Levada pelo vento


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