exibições de letras 11.197

Carta N° 3

MC Sid

LetraSignificado

    Meu nome é Carlos Augusto Migliaccio
    Também conhecido como Migli, apelido que minha mãe me deu
    Depois que eu presenciei a violência dentro de casa
    Uma boa parte do meu coração morreu
    Por um lado, tudo tava bem mais cinza
    E por outro lado, eu comecei a me importar menos com tudo isso
    O fato de eu me importar menos fez meu ensino médio menos doloroso
    Eu até consegui fazer alguns colegas
    Porém, ainda me cortava com muita frequência
    Eu poderia contar todos os detalhes da minha vida pra vocês
    Cada lágrima, cada choro, cada desilusão
    Porém, irei contar sobre o dia 17 de agosto de 2012
    Uma festa que mudou minha vida e me colocou no fundo do poço

    Essa é a Carta N° 3

    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    Meus cortes no braço me dizem que a vida que eu levo tá osso
    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    Meus cortes no braço me dizem que a vida que eu levo tá osso

    Já não falava com meu pai à um tempo
    Quando falava era somente sobre o necessário
    Ele sempre tava pior, dobrou a cachaça em casa
    E adicionou palavras ruins pro seu vocabulário
    No terceiro ano a escola melhorou um pouco
    Não tinha amigos, mas fiz alguns colegas
    O bullying continuava só que mais leve
    Eu tava um pouco mais feliz sobrevivendo às cegas
    Fiquei sabendo de uma festa de uma mina de outra escola
    Gente desconhecida, podia ser daora
    Era os 18 dela, ia gente mais velha
    E eu tava precisando de umas companhias novas
    Sabia que meu pai nunca deixaria
    Por isso já tinha um tempo que eu mentia
    Enquanto ele bebia eu saia pela janela
    Voltava antes de amanhecer, ele nunca percebia
    No dia da festa me arrumei bonito
    Jeans, manga comprida pra esconder os corte
    Passei no posto pra comprar uma catu
    Um maço de Lucky Strike e uma garrafa de corote
    Entrei na festa, vi uma cena comum
    Menor embriagado era só o que não faltava
    Muita maconha e geral beijando na boca
    De certa forma, essa cena sempre me acalmava
    Quando via a desordem na vida duzôtro
    Achava a minha desordem um pouco mais aceitável
    Sentia que eu não era o único fudido
    Então no meio dos fudido eu não seria indesejado

    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    A falta de amigos dizia que a vida que eu levo era osso
    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    A falta de amigos dizia que a vida que eu levo era osso

    Em meio à festa vi uma mina de canto
    Com olhar de melancolia, mas tinha certo encanto
    Percebi que me encarava
    Como se soubesse que nossa amargura se assemelhava um tanto
    Ela era a única menina de manga comprida
    Eu era o único menino de manga comprida
    Quando eu olhei no olho dela
    Foi como se ouvisse sua voz dizendo: Eu também odeio a vida
    Pra afastar a timidez bebi um pouco
    Entre trancos e barrancos consegui puxar assunto
    Ela era uma pessoa incrível
    Falava tão pouco, mas dizia muito
    Seu nome era Bianca Abrão
    Filha de pais divorciados pela traição
    Também tinha cortes no pulso e forte pulsação
    Muita emoção, gerou atração, prendeu minha atenção
    Lá pras 3 da matina a festa tava vazia
    Convidei a Bia pra beber lá no quintal
    Falei que nunca tinha beijado na boca
    Ela riu e disse que tinha uma ideia legal
    Ela tava fumando um, me ofereceu um trago
    Só aceitei porque a presença dela me anima
    Antes já tinha até fumado uns baseado
    Mas beck, brisa sempre zuava meu clima
    Eu tava feliz, a Bia era nota 10
    Finalmente alguém que não tinha preconceito
    Tava um dia perfeito
    E ela perguntou se eu queria me divertir, pois conhecia um jeito
    Claro que eu respondi que sim
    Na mesma hora ela tirou do bolso um ziplock com um pózinho branco
    Enrolou uma nota e esticou no banco
    E disse que se eu experimentasse iria me alegrar um tanto
    Aquela cena bugou minha mente
    Como assim? Cocaína, droga do diabo e dos doente
    Droga de gente acabada no fundo do poço
    Gente sem passado, sem futuro e sem presente
    Porém a Bia não era nada disso, bem pelo contrário
    Parecia muito inteligente, um belo sorriso eloquente
    Aparência saudável, ainda era muito atraente

    Pera, pausa a história
    Nesse momento eu tive um dos piores pensamentos da minha vida
    As pessoas que sempre me disseram que cocaína era uma droga horrível
    Foram as mesmas pessoas que me trataram como uma droga horrível
    Que me fuderam, nunca me deram atenção, carinho, nem nada
    A Bia, por outro lado, cheirava cocaína e me tratou super bem
    Não me excluiu, não me expulsou, não me agrediu
    Caralho será que eu sempre vi o mundo de cabeça pra baixo?
    Sempre fiz tudo que disseram que era certo e deu tudo errado
    E se eu fizer ao contrário, e se eu fizer ao contrário?

    Naquele momento peguei a nota enrolada
    Coloquei no nariz e me aproximei do banco
    Respirei com toda a força que eu tinha
    E por um segundo minha mente toda ficou em branco
    Foi a melhor sensação de toda minha vida
    Nariz ardendo e coração a milhão
    Como se eu não tivesse nenhum problema, nenhuma decepção
    Aquela foi a primeira vez que eu me senti vivo
    Afastou minha apatia e toda depressão
    A sensação era igualzinha a se cortar
    Só que multiplicado por um milhão

    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    O pó no nariz me dizia que a vida que eu levo era osso
    Sempre me perguntei como eu vim parar no fundo do poço
    O pó no nariz me dizia que a vida que eu levo era

    Naquele momento, minha vida mudou
    Eu encontrei minha segunda paixão: A cocaína
    Era algo libertador, eu me sentia forte, novo, invencível
    Eu não me sentia quem eu realmente era: Cicatrizes e lágrimas
    Dali pra frente a cocaína virou algo presente no meu dia a dia
    E junto ao hábito de me cortar
    Curavam quase que qualquer dor que eu tinha
    Maldita cocaína
    Se alimentou da minha fraqueza
    Pra me deixar às margens da sociedade
    E fui eu que paguei a conta toda, sozinho
    Até hoje eu me pergunto o que seria de mim
    Se as escolas falassem sobre drogas de uma forma realista, sincera
    E não desse jeito sensacionalista

    Bom, talvez eu não me encontrasse aqui!


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de MC Sid e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção