Hades

A marginalidade urbana e o poder em "Hades" de Xamã

Em "Hades", Xamã utiliza a figura do deus do submundo para explorar os aspectos mais sombrios e marginalizados da vida urbana. Ao afirmar "Eu que mando nessa porra" e "Sou vira-lata, capeta que não dá pata / E te mata na letra", ele se coloca como alguém que domina seu próprio território, mas que também sente o peso de ser um outsider, alguém que não se encaixa nos padrões e sobrevive em meio à dureza das ruas. A referência a Hades aparece de forma direta em "Pagando a Hades com RioCard", sugerindo que o cotidiano difícil e o deslocamento pela cidade são como uma travessia pelo submundo, onde cada um paga seu preço para sobreviver.

A letra mistura referências culturais e pop, como "Itachi da Akatsuki", "Gatsby" e "Donnie Darko", criando um universo onde o real e o fantástico se encontram. Isso reforça a ideia de que a vida do artista é marcada por desafios, perdas e conquistas. O clima é de resistência e celebração, mesmo diante das adversidades, como em "Eu confesso, sofri pra caralho / Vi gente que amava ir embora / Chorar sozinho e pensar: E agora?". O tom urbano aparece nas gírias, nas menções ao cotidiano de festas, shows, consumo de drogas e na crítica social: "Nunca incluíram os rato no censo", evidenciando a exclusão dos marginalizados. O refrão, com "Meia-noite e pouca / No leve de Johnnie Walker", reforça o clima noturno, de liberdade e risco, onde diversão e perigo se misturam. Xamã transforma sua vivência em poesia direta, misturando dor, orgulho e irreverência, como quem governa seu próprio submundo, à la Hades.