395px

Canetas e Guardanapos

Milton Nascimento

Biromes Y Servilletas

En Montevideo hay poetas, poetas, poetas
Que sin bombos ni trompetas, trompetas, trompetas
Van saliendo de recónditos altillos, altillos, altillos
De paredes de silencios, de redonda con puntillo

Salen de agujeros mal tapados, tapados, tapados
Y proyectos no alcanzados, cansados, cansados
Que regresan en fantasmas de colores, colores, colores
A pintarte las ojeras y pedirte que no llores

Tienen ilusiones compartidas, partidas, partidas
Pesadillas adheridas, heridas, heridas
Cañerías de palabras confundidas, fundidas, fundidas
A su triste paso lento por las calles y avenidas

No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Solo pasan a papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales

Hablan de la aurora hasta cansarse, cansarse, cansarse
Sin tener miedo a plagiarse, plagiarse, plagiarse
Nada de eso importa ya mientras escriban, escriban, Escriban
Su manía su locura su neurosis obsesiva

Andan por las calles los poetas, poetas, poetas
Como si fueran cometas, cometas, cometas
En un denso cielo de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrable, desastroso, lamentable y aburrido

En Montevideo hay biromes, biromes, biromes
Desangradas en renglones, renglones, renglones
De palabras retorciéndose confusas, confusas, confusas
En delgadas servilletas, como alcohólicas reclusas

Andan por las calles escribiendo, y viendo y viendo
Lo que ven lo van diciendo y siendo y siendo
Ellos poetas a la vez que se pasean, pasean, pasean
Van contando lo que ven y lo que no, lo fantesean

Miran para el cielo los poetas, poetas, poetas
Como si fueran saetas, saetas, saetas
Arrojadas al espacio que un rodeo, rodeo, rodeo
Hiciera regresar para clavarlas en Montevideo

Canetas e Guardanapos

Em Montevidéu tem poetas, poetas, poetas
Que sem tambores nem trompetes, trompetes, trompetes
Saem de altos recônditos, recônditos, recônditos
De paredes de silêncios, de redonda com pontinho

Saem de buracos mal tapados, tapados, tapados
E projetos não alcançados, cansados, cansados
Que voltam em fantasmas de cores, cores, cores
Pra te pintar as olheiras e te pedir pra não chorar

Têm ilusões compartilhadas, partidas, partidas
Pesadelos grudados, feridas, feridas
Caminhos de palavras confundidas, fundidas, fundidas
A seu triste passo lento pelas ruas e avenidas

Não buscam glórias nem louros, louros, louros
Só passam pra papéis, papéis
Experiências totalmente pessoais, zonais, zonais
Elementos muito parciais que juntos não são tais

Falam da aurora até cansar, cansar, cansar
Sem ter medo de se plagiar, plagiar, plagiar
Nada disso importa mais enquanto escrevem, escrevem, escrevem
Sua mania, sua loucura, sua neurose obsessiva

Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num denso céu de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrável, desastroso, lamentável e chato

Em Montevidéu tem canetas, canetas, canetas
Desangradas em linhas, linhas, linhas
De palavras se contorcendo confusas, confusas, confusas
Em finos guardanapos, como alcoólicas reclusas

Andam pelas ruas escrevendo, e vendo e vendo
O que veem vão dizendo e sendo e sendo
Eles poetas ao mesmo tempo que passeiam, passeiam, passeiam
Vão contando o que veem e o que não, fantasiando

Olham pro céu os poetas, poetas, poetas
Como se fossem flechas, flechas, flechas
Lançadas ao espaço que um rodeio, rodeio, rodeio
Fizesse voltar pra cravá-las em Montevidéu

Composição: Léo Masliah