Chão de Estrelas

Memórias e saudade em "Chão de Estrelas" de Nelson Gonçalves

O verso “Tu pisavas nos astros distraída” cria uma imagem marcante de delicadeza e inocência, destacada por Manuel Bandeira como uma das mais belas da literatura brasileira. Essa metáfora mostra a mulher amada caminhando pela vida com leveza, sem perceber a beleza ao seu redor, enquanto o narrador observa com saudade a simplicidade e o encanto dos momentos que viveram juntos. Composta em 1937 por Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, “Chão de Estrelas” se tornou um clássico por transformar a vida humilde do morro em poesia, como se o barraco simples ganhasse um “chão de estrelas” graças ao amor e à presença da amada.

A letra alterna entre lembranças de um passado alegre e a saudade do presente. O narrador se vê como um “palhaço das perdidas ilusões”, alguém que viveu de aparências e alegrias passageiras, mas que agora sente a falta da mulher que era sua inspiração. Detalhes como “nossas roupas comuns dependuradas na corda qual bandeiras agitadas” e “a porta do barraco era sem trinco” reforçam a simplicidade e vulnerabilidade do lar, mas também mostram liberdade e autenticidade. O barraco no morro do Salgueiro vira símbolo de um lar cheio de afeto, onde até as dificuldades eram celebradas como um “feriado nacional”.

Imortalizada por Nelson Gonçalves, a música emociona ao retratar a beleza da vida simples e a força da saudade. O “chão de estrelas” representa tanto a luz da lua iluminando o barraco quanto os sonhos e esperanças que davam sentido à vida, mesmo na pobreza. O tom nostálgico da canção convida o ouvinte a valorizar os pequenos momentos e a encontrar alegria nas coisas mais simples, como o amor, o luar e o som do violão.