Anti-Heroi

Crítica social e ironia em “Anti-Heroi” de Nle Dopre

“Anti-Heroi”, de Nle Dopre, subverte a imagem tradicional do herói ao usar ironia e sarcasmo para criticar a hipocrisia das instituições e a violência policial. No verso “Cueca em cima da calça não te faz um cara foda”, o artista desconstrói o estereótipo do super-herói, mostrando que símbolos externos, como a cueca do Superman ou a farda policial, não definem caráter ou heroísmo. A crítica se aprofunda em “A farda se torna capa pra quem tem uma pistola”, onde a farda policial é comparada à capa de super-herói, mas aqui serve para legitimar abusos de poder, principalmente contra os mais vulneráveis.

A música também denuncia o abandono das comunidades marginalizadas pelas autoridades, como em “Quando o pobre favelado precisa, cês evapora”, evidenciando a seletividade do Estado. O trecho “Tem pelo menos umas quinze mulher apanhando agora / Servir, proteger Cadê? Bora” questiona a atuação da polícia diante da violência doméstica, apontando para a omissão e falta de compromisso com a proteção da população. O refrão “Mão na cabeça, vai mão na cabeça / Cê tá preso e tem o direito de permanecer calado” ironiza o procedimento policial padrão, enquanto “A não ser que vocês me dê um tiro, eu não calo a boca nunca” expressa resistência e desafio à opressão, reforçando a postura de anti-herói que se recusa a se calar diante da injustiça. O diálogo final, em que uma tentativa de relativizar a crítica é rapidamente interrompida, reforça o tom direto e a intenção de manter o foco na denúncia social, característica marcante do trabalho de Nle Dopre.