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Drama na fazenda

Odilon Ramos

Letra

    A tarde descambava, despacito
    Numa morosidade de boi manso
    O Sol se encaminhava pro descanso
    No seu acampamento na coxilha
    O gado percorria sua trilha
    Cotidiana, no rumo do curral
    E ouvia-se cantar no matagal
    Um sabiá reunindo sua família

    No campo, um quero-quero solitário
    Gritou sem que lhe dessem atenção
    E a coruja pousada no moirão
    Cantou baixinho, em tom de mau agouro
    Nisso rompeu no casarão um choro
    Que pôs em alvoroço a peonada
    Era a patroa que, desesperada
    Aos gritos, provocava aquele estouro
    A Rita, se sumiu a minha Rita
    Foi como jogar pedra em lixiguana
    E por cima um piá veio ventana
    Disse: O Florêncio não veio pro galpão
    E a peonada olhando pro patrão
    Compreendeu o que tinha acontecido
    E o olhar do velho taura enfurecido
    Prenunciou que ia haver revolução

    A Rita era a relíquia da fazenda
    Um mimo de lindeza e de bondade
    Um toque de poesia e suavidade
    Na vida rude em que ali se vivia
    Levantava cedinho todo o dia
    Mateava e conversava com a peonada
    Ela era tão querida e respeitada
    A Rita, logo a Rita quem diria

    Florêncio era o mais guapo dos campeiros
    Por isso foi nomeado capataz
    Já todos conheciam seu cartaz
    Numa doma, no laço ou marcação
    Era estimado assim como um irmão
    E gostava da Rita, se sabia
    Mas nunca se pensou que fosse um dia
    Roubar tão logo a filha do patrão

    A voz forte cortou os pensamentos
    Como um trovão na tarde ensolarada
    Mandando se espalhar a peonada
    E que trouxessem os dois, mortos ou vivos
    E todos cavalgaram, pensativos
    Cada um por caminho diferente
    Cada um desejando, intimamente
    Não achar nunca o par de fugitivos

    A barra cor de rosa do Sol posto
    Enfeitava ainda o céu lá no poente
    Soprava um vento morno, quase quente
    Um vento bom de tarde de verão
    De repente, ecoou lá no capão
    O estampido de um tiro, e outro mais
    E logo, o galopar dos animais
    Dos peões buscando aquela direção
    Acharam os dois mortos, bem juntinhos
    A Rita e o Florêncio, lado a lado
    Misturando seu sangue derramado
    E a noite os encobriu com o seu véu
    Um peão mais velho tirando o chapéu
    Ajoelhou-se ao lado dos defuntos
    E pediu: Meus Deus, recebe estes dois juntos
    Nesta fazenda grande aí no céu


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