Camadas

“Camadas”: entre fachadas digitais e amor verdadeiro

“Camadas” desmonta a felicidade de vitrine e transforma a busca por amor num teste de autenticidade. Papillon expõe que, por baixo de beijos, likes e posses, há filtros que não curam ferida nenhuma. Logo de início, ele assume a “lição aprendida”: mordeu a “fruta proibida” e tapou “mágoa contida” com “posses e queridas”, até perceber a falsidade dessa rota (“Mas é mentira já dizia o Pais”). A virada vem em “Tive que ir ao fundo para mirar os corais”: é mergulhando dentro, não comprando fora, que se encontra beleza e sentido. O refrão reforça: “Procuro em cada hectare... eu vejo mais que isso” recusa gestos performáticos como “love, peace, hugs, kisses” (amor, paz, abraços, beijos) e pede ligação verdadeira — coerente com a fama de MC genuíno que Papillon tem na cena portuguesa.

No pós-refrão, a pergunta “Camadas / Quantas camadas pra ser feliz?” mira as fachadas — maquiagem emocional, filtros e status — que prometem felicidade, mas só escondem. A sequência “Pra que estar quitado / Se o ouro é pintado / Corpo empiriquitado / Mas todo editado” desmonta o brilho fake do consumo e da imagem. O manifesto vem direto: “Fake 'till you make it? Fuck that, estou acordado” (Finja até conseguir? Foda-se isso, estou acordado). A resposta está no essencial: “Abraça / Pois tudo passa / Hoje só tu bastas / Se é puro não se gasta”. E o possível duplo sentido de “Eu vejo cama ia” — eco entre “camadas” e “cama” — aponta o atalho físico que seduz, mas não resolve a procura, reforçando o convite do tema: tirar as máscaras e escolher a conexão que permanece.