Área Azul

Racismo e resistência nas periferias em “Área Azul”

Em “Área Azul”, Phoenix RDC retrata de forma direta a realidade das periferias portuguesas, especialmente para jovens negros, marcadas pela brutalidade policial e pelo racismo estrutural. A repetição do verso “Quem patrulha a área é a Judiciária / A paz no bairro agora é coisa rara” reforça o clima de constante vigilância e ameaça, onde a presença policial representa opressão e risco, como em “Lei é bala se te encara, é só mais um preto na vala”. O artista traz um relato pessoal, mostrando que essas experiências são parte de sua vivência em meio à desigualdade e violência, tornando a letra um testemunho autêntico da exclusão social.

A música também aborda a falta de oportunidades e a pressão para seguir caminhos ilícitos. No trecho “Eu não queria 'tar no crime, eu queria 'tar no ringue / Toda a criança sonha e eu sonhei ser Ronaldinho”, Phoenix RDC mostra o contraste entre o sonho de ascensão social pelo esporte, representado por referências a Eusébio e Éder, e a dura realidade em que o crime surge como alternativa diante da miséria. O verso “Minha mãe lavava pias, dizia: Filho, a vida é assim / Já 'tava conformada, sentia-se rica no vazio” ilustra a resignação diante das poucas perspectivas, enquanto a crítica ao sistema aparece em “Bairros sociais são a lixeira num modo camuflado / Por isso é que 90 por cento da comunidade tá atrás das grades”.

Phoenix RDC ainda denuncia o preconceito institucional e a marginalização política, citando o avanço de partidos como o Chega e figuras como Hitler para ilustrar o crescimento do discurso de ódio e a falta de representatividade. O verso “Querem apagar o Éder que fodeu a França / Encher a pança, não deram mérito, só distância” evidencia como conquistas de negros são ignoradas. Assim, “Área Azul” se apresenta como um manifesto de resistência, onde a denúncia social é transformada em arma contra a opressão e a invisibilidade das periferias.