Natasha

Natasha

estou sozinho há dois anos desde que ela desapareceu
Estou no parque onde ela foi vista
pela última vez, uma vasta clareira verde envolta em árvores de bordo
pingando a chuva da manhã de suas folhas
Eu costumava andar aqui com uma garota de dezessete anos na
época, senhora de dezessete sorrisos sublimes com cabelos vermelhos flamejantes no
outono e mechas laranjas ardentes no verão, éramos solenes e
desajeitados naquela última noite juntos
ela deitou ao meu lado olhando para os céus sem estrelas
pretos como penas de anjo caído
Eu olhei para a floresta fingindo não
ver os algozes que ela escondia em seus olhos verdes de serpente, ela disse
que havia outro
Eu me recusei a acreditar nela
Eu pensei que iríamos nos beijar até nossas
línguas se entrelaçarem, todas as minhas memórias amorosas se tornaram cenas de
massacre frenético, minhas mãos se tornaram garras cruéis enquanto se moviam para
destruí-la, seu pescoço quebrou como um brinquedo na
mão descuidada de uma criança, minhas lágrimas caíram em olhos mortos
e espirraram em seus lábios sem vida
Eu a coloquei no chão como uma flor, aqui
estou eu, parado naquele mesmo lugar hoje onde a concha vazia da minha
anjinha repousou pela última vez e enquanto minhas lágrimas começaram a
se acumular mais uma vez, vejo um caminho na
margem da floresta que eu nunca tinha visto antes
Eu o sigo até um desfiladeiro, encontro
um buraco na terra emoldurado pelas raízes de uma árvore de bétula
ecos sutis de sua
voz falando palavras que eu nunca ouvi, mas do jeito
que ela sibilava seus "s", tinha que ser ela, eu sinto o cheiro de madressilva e depois ópio, dois de seus
cheiros característicos, eu afasto todos os cardos e cipós
hipnotizado, faço minha
descida, enquanto me arrasto mais para dentro a luz lentamente morre e a terra começa
a sentir como sua pele, eu tremo enquanto
arrasto meus dedos pelas paredes
acariciando sua doce carne novamente
Estou escorregando, tentando com todas as minhas forças não cair
escorregando no sangue que está seepando das paredes, então de repente
estou cercado por mil de seus olhos
banhando o túnel em uma estranha luz verde
os olhos me mostram imagens como telas de televisão fantasmagóricas
todas as suas lutas finais e seu corpo
devastado sereno, o túnel está
se fechando atrás de mim, me pressionando cada vez mais para baixo
estou sendo engolido por sua terra e
consumido por seu chão, o fim está se aproximando, eu ofego
e grito ao ver sua linda boca cinco vezes o tamanho da minha, seus lábios
se curvam em um sorriso ao redor de seus dentes tortos e afiados, eu sou pulverizado e
devorado nas mandíbulas de uma garota de dezessete anos.