Maio 68

Memória e legado dos protestos em "Maio 68" de Raimundo Sodré

A música "Maio 68", de Raimundo Sodré, aborda o clima de esperança e transformação social vivido durante os protestos de maio de 1968, especialmente na França, e como esse sentimento se mistura à frustração e à sensação de perda. Isso fica claro em versos como “A última vez / Em que vi esperança foi / Na mesma esquina / Em que me perdi”, que mostram a dualidade entre o desejo de mudança e a decepção com os resultados. Imagens como “lacrimogênica ilusão” e “palavras de ordem sob a calça Lee” fazem referência direta à repressão policial (gás lacrimogêneo) e à juventude engajada dos anos 60, que usava as calças Lee como símbolo de rebeldia.

A letra traz referências a figuras históricas e culturais como Marx, Krishnamurti, John Lennon e Cohn-Bendit, além de elementos do movimento tropicalista brasileiro (“tropicaetanos”) e possíveis alusões a José Travassos. Essas menções situam a canção como um retrato das lutas por liberdade e mudança, tanto no Brasil quanto no mundo. Versos como “Meia vida meio torta / Meio natureza morta” e “Meia liberdade (Nosso sonho) que se solta / Mas não volta” reforçam a ideia de que os resultados das lutas foram parciais e deixaram marcas ambíguas. Ao citar “vestígios de hippies e Cohn Bendis” e “punhos cerrados violando o ar”, a música evoca a herança dos movimentos de contestação e o desejo persistente de transformação. Nos versos finais, “O saldo é a semente plantada nos corações, ações / De outras cabeças que possam sonhar”, Sodré reconhece que, apesar das derrotas, a esperança e o impulso de mudança continuam vivos para as próximas gerações.