Ice Cream Man.

Superação e denúncia em "Ice Cream Man" de RAYE

"Ice Cream Man" de RAYE utiliza uma metáfora impactante ao transformar a figura do vendedor de sorvete, normalmente associada à inocência e alegria infantil, em símbolo do predador que rompe a segurança e deixa marcas profundas. A artista revela, de forma direta, como o abuso pode se disfarçar de algo aparentemente inofensivo, tornando o trauma ainda mais confuso e doloroso, especialmente quando vivido desde a infância. Isso fica claro quando ela cita as idades em que sofreu agressões: “I was seven, just twenty-one, was seventeen and was eleven” (Eu tinha sete, vinte e um, dezessete e onze anos).

A letra é um relato cru das experiências de agressão sexual vividas por RAYE, inspirada em fatos reais. Ela expõe o abuso de poder na indústria musical ao narrar um episódio com um produtor: “He told me: Come round to the studio... But when I got there... Trying to touch me, trying to fuck me” (Ele me disse: Venha ao estúdio... Mas quando cheguei lá... Tentando me tocar, tentando transar comigo). O refrão, com “I'm a very fucking brave strong woman” (Eu sou uma mulher muito forte e corajosa), transforma a dor em afirmação de força e resistência, incentivando outras vítimas a não se calarem. Trechos como “I pushed it down, but it was livin' in me rent free” (Eu reprimi, mas isso vivia em mim de graça) e “You made me frame myself for your sin” (Você me fez me culpar pelo seu pecado) mostram o impacto duradouro do trauma e o sentimento de culpa comum entre sobreviventes. Assim, a música se torna um desabafo pessoal e um manifesto de empoderamento, reforçando a importância de romper o silêncio e buscar apoio.