Mary Jane.

Relações de dependência e vulnerabilidade em “Mary Jane”

Em “Mary Jane”, RAYE aborda de forma direta e confessional o uso de substâncias como maconha, codeína, vinho tinto e MDMA (referida como “Mandy”) como formas de lidar com dores emocionais e angústias. A artista personifica essas substâncias, tratando-as como amigas ou amantes, o que evidencia uma relação de dependência tanto emocional quanto física. No verso “You take these bitter thoughts in my brain / And let them fall like summer rain” (“Você leva esses pensamentos amargos da minha mente / E os deixa cair como chuva de verão”), RAYE atribui à maconha o papel de aliviar o sofrimento, quase como um consolo íntimo.

A honestidade da letra é reforçada pelo tom melancólico e vulnerável, refletindo o que a própria RAYE descreveu como uma “carta de amor ao meu vício”. A codeína é mencionada em “But you hold me better than any man did / And no one's done it like you since” (“Mas você me abraça melhor do que qualquer homem / E ninguém fez isso como você desde então”), mostrando como a substância ocupou um espaço maior que relações humanas. O vinho tinto aparece como um estímulo para enfrentar situações difíceis, mesmo que de forma autodestrutiva: “You always gave me the best advice / Gave me courage to call the man that makes me cry” (“Você sempre me deu os melhores conselhos / Me deu coragem para ligar para o homem que me faz chorar”). Ao citar “Mandy” e chamá-la de “stone cold bitch in the morning” (“vadia fria de manhã”), RAYE revela o ciclo de prazer e vazio do uso de drogas recreativas. A música oferece um retrato honesto dos mecanismos de enfrentamento pelo abuso de substâncias, especialmente sob a perspectiva feminina, desafiando estigmas e convidando à empatia.