Cuiabá Cuiabá

“Cuiabá Cuiabá” entre fé, boemia e memória cuiabana

Sem hierarquizar o sagrado e o profano, “Cuiabá Cuiabá”, de Roberto Lucialdo, coloca o santo e o boteco lado a lado para afirmar uma identidade que bebe dessas duas forças. O próprio rasqueado — mistura de polca paraguaia com siriri, estilo que Lucialdo ajudou a popularizar — encena essa fusão. O refrão “Cuiabá, Cuiabá” funciona como chamada e resposta, reforçando a homenagem e o orgulho que tornaram a faixa um hino afetivo dos cuiabanos. A letra percorre tradições locais, como “São Gonçalo, Cururu e Siriri”, e aproxima devoção e rotina ao citar “São Benedito” junto do “parque da exposição”, onde a vida social e rural se encontram.

O mapa afetivo continua em lugares e sabores: “Coxipó do Ouro”, “manga e pequi”, bairros como “Lixeira” e “Jardim Araçá”. A boemia pulsa no “Beco do Candeeiro” e em bares como “Panacéia” e “Choppão”, enquanto o “CPA”, Centro Político Administrativo, é onde “a noite a gente vara”. Há nostalgia em “da velha Prainha” e no marco urbano “Maria Taquara”. Ao evocar “Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá”, o texto recua no tempo e reafirma pertencimento. “Tem Jejé, samba na avenida” aponta para o carnaval de rua e para a matriz afro-brasileira; “Jejé” pode remeter a essa herança ou a figuras da cena local. E “em Leverger também se vive a vida” amplia o abraço à vizinha Santo Antônio de Leverger, à beira-rio. O encadeamento ágil de nomes, somado ao balanço do rasqueado difundido por Lucialdo — dos palcos comunitários ao concerto “Cuiabá que eu amo” e à TV em Ana Raio e Zé Trovão — sustenta alegria, orgulho, afeto e uma ponta de saudade.