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Falsa Abolição

Rodrigo Negão

Letra

    O marginalzinho amarrado ao poste era
    Tão incente que em vez de prestar queixa
    Contra seus agressores, ele preferiu fugir antes que ele mesmo acabasse preso

    O menino subiu a ladeira
    Passo a passo sem parar
    Caminhou pelas ruas do gueto
    Esquinas, bares, sinucas
    Procurando em alguém encontrar
    Um pedacinho ilusório de felicidade
    Talvez dois tavez três
    Quantos pudesse levar
    Pra comemorar o seu aniversário

    Entre becos, vielas, aquela
    Toma lá, da cá
    O menino deu as costas pro seu consciente
    E voltou a andar

    E descendo a ladeira no barro do campinho
    Ele viu dois muleques rodando um pião
    Lembrou logo da sua infância
    Quando bolinhas de gude jogava com o seu irmão
    Um casal apaixonado, abraços e beijos
    Uma linda despedida naquele portão
    Esses momentos felizes assim rotineiros
    Mais do nunca saltaram a sua visão

    E descendo a ledeira
    O menino chorou
    Ao perceber o buraco
    Que sua vida enfiou
    Lamentável, lamentável, lamentável
    Lamentável

    E descendo a ladeira com a parada na mão
    Uma, duas, três vielas, eis ali camburão
    Eu batendo em retirada um, dois, três, trupicão
    Uma senhora, uma barraca e a esperança la no chão
    Todo mundo me olhando como se eu fosse um ladrão
    Adrenalina, sangue quente, eterna rebelião
    O passado e o presente coloquei em questão
    Me levantei saí correndo sem pagar vacilação

    O corpo todo suado
    O meu pisante estourado
    Meu ombro todo ralado
    Preto, sujo, favelado
    Pra sociedade do asfalto
    Um inimigo declarado

    Olhei pra trás não vi os vermes
    Ramelei fiquei de leve
    Dei até uma parada para respirar
    Quando senti tomei do nada
    Dois tapão e uma paulada
    De um povo injustiçado
    Querendo me injustiçar

    Ração diaria de vingança contra a raça ladrão
    Que infernizou a sua vida em alguma situação
    No caminho que eles trilham que é o oposto do perdão
    O açoite como ligeiro é no lombo desse negão

    Um cadeado de bicicleta
    E um poste amarelo
    Meu pescoço amarrado
    Sem roupa e nem chinelo
    Foi o presente de aniversário
    Me oferecido pela nação
    Na praça pública fui amarrado
    Provando da falsa abolição

    Lamentável


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