Meu Querer

Infância e exclusão social em "Meu Querer" de Royce do Cavaco

"Meu Querer", de Royce do Cavaco, faz uma crítica direta à realidade de crianças em situação de vulnerabilidade no Brasil. A letra expõe o contraste entre o desejo de uma infância digna e o destino trágico de muitos jovens nas ruas. No trecho “Eu quero escola / E não uma lata de cola / Ser manchete matinal / Estirado numa vala”, o artista evidencia o desejo por educação e dignidade, em oposição ao abandono, ao vício em drogas e à violência que marcam a vida de tantas crianças. A referência a locais como Sé, Candelária, Funabem e Febem conecta a música a episódios reais de violência e descaso, como a Chacina da Candelária, e a instituições associadas à repressão e à falta de oportunidades para jovens em risco social.

Royce do Cavaco, reconhecido por abordar temas sociais em suas composições, utiliza uma linguagem clara para pedir respeito e oportunidades, não apenas compaixão. O verso “Eu quero ter o direito / Livre de preconceito / De ser também um cidadão” reforça a reivindicação por direitos básicos. O pedido por “régua, um caderno e uma caneta / Sem bereta ou escopeta” destaca a escolha pela educação em vez da criminalidade. O refrão “Eu quero amor curando os ais / O teu carinho satisfaz / Você não vê que sou criança / Carente de paz” humaniza o personagem, lembrando que, por trás das estatísticas, existem crianças que precisam de cuidado e inclusão. Assim, a música denuncia a indiferença social e reafirma o compromisso do samba de Royce do Cavaco com as vozes das camadas mais vulneráveis.