Minha Vida

Retrato humano e nostálgico de Lampião em “Minha Vida”

"Minha Vida", de Rui Grudi, apresenta uma visão mais humana de Lampião, figura histórica do cangaço, geralmente vista apenas como bandido ou herói folclórico. A letra, narrada em primeira pessoa, revela não só o orgulho e a coragem do cangaceiro, mas também sua saudade e tristeza por um passado perdido. Isso fica claro nos versos em que ele lembra a infância e a família: “Quando lembro senhores / Do meu tempo de inocente / Que brincava nos serrados / Do meu sertão sorridente”. Essa mistura de bravura e dor é fundamental para entender a canção.

O contexto do cangaço aparece de forma direta na letra, com menções a personagens reais como Sebastião Pereira, Antônio e Livino Ferreira, mostrando Lampião como resultado de um sertão marcado pela violência e injustiça. O orgulho regional surge em versos como “Sou senhor absoluto / De todo esse sertão”, enquanto a expressão “leite é bala de chumbo” transforma o cotidiano em símbolo de luta. A música também destaca o peso do destino trágico: “Para minha infelicidade / Entrei nesta triste vida”, indicando que, apesar da fama, Lampião carrega as marcas de escolhas forçadas pelas dificuldades do sertão.

A interpretação de Rui Grudi valoriza a tradição oral e musical do Nordeste, preservando a memória do cangaço e de seus personagens. O tom direto e regional da letra, junto com a nostalgia e o orgulho, faz de "Minha Vida" um retrato complexo de Lampião: temido, admirado e, acima de tudo, profundamente humano, marcado pela saudade, dor e resistência.