A Lei

Realidade e resistência nas periferias em “A Lei” do RZO

"A Lei", do RZO, retrata de forma direta o cotidiano das periferias brasileiras, evidenciando como a violência, o tráfico de drogas e a repressão policial fazem parte da rotina dos moradores. A música vai além da crítica à legislação formal, mostrando que a verdadeira "lei" nas quebradas é um conjunto de regras informais criadas pela própria comunidade para sobreviver diante do abandono do Estado. O refrão, "A lei é cada um, cada um", resume essa ideia: sem apoio institucional, cada pessoa constrói seu próprio código de conduta para enfrentar as adversidades.

Inspirada pelo contexto dos anos 1990, quando o consumo de drogas e a violência policial aumentaram nas periferias, a letra traz exemplos marcantes desse cenário. Versos como "Cachimbo é destruição, não pára de afunda / Seu sangue era tipo A, mas foi sugado foi drenado" ilustram o impacto do crack na juventude. A música também denuncia a indiferença social e a criminalização dos pobres: "Tem gente pra condenar mas ajudar nem pense / Telefona para a polícia, o vizinho do lado ou da frente". A participação de Edi Rock e o uso do sample de "Homies & Thuggs (Remix)" reforçam o tom de denúncia e solidariedade entre os marginalizados.

Além da crítica social, "A Lei" reflete sobre o ciclo de sofrimento e exclusão, como nos versos "Os mano que morreu, quem não perdeu um camarada seu / Fudeu mano, a vida não é boa como parece". O narrador expressa o desejo de romper com esse destino, valorizando a família e a esperança de uma vida melhor: "A minha mãe em primeiro lugar é o que eu quero / Prospero uma vida melhor, não escolhi o caminho de me afundar numa carreira de pó". Assim, a música se destaca como um retrato realista das dores e escolhas limitadas de quem vive na periferia, mas também como um manifesto de resistência e busca por dignidade.