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O Coronel de Macambira

Sérgio Ricardo

LetraSignificado

    ABERTURA

    Bumba! Meu Boi, bumbá!
    Cavalo marinho
    Vem vem que vem dançando
    Bem devagarinho

    Cavalo marinho
    De donde é que vem
    Das praias de longe,
    Das terras de além?

    Bumba! meu boi, bumbá!
    Que vem de chegar
    Cavalo marinho
    Das bandas do mar.


    AEROMOÇA

    Pastora sou de pastores
    Baliza dos ventos frios
    Pastora sou de aeronaves
    Farol guiando os navios

    Que , aos portos de Além do Além
    Levam seus porões vazios
    Pastora sou de aeronaves
    Baliza dos ventos frios


    JARDIM DO CÉU

    Jardim do céu, do céu
    Rosa branca, rosa breve
    Jardim de plantas de nuvens
    Jardim de nuvens de neve

    Asas livres, asas leves
    Voando no céu distante
    Asas de um homem que aprende
    Liberdade a cada instante

    Jardim do céu, do céu
    Jardim do céu
    Jardim do céu, do céu
    Jardim do céu


    SOLDADO

    Marchando vem pela estrada
    Batendo as botas reiúnas
    O soldado
    O soldado
    O soldado da coluna

    Avançando pela estrada
    Sob o sol e sob as chuvas
    Marchou muitas, muitas léguas
    E venceu em Catanduvas

    Subindo serras, descendo
    Abrindo largas estradas
    Nem mesmo ser reunidos
    Trabalhador e soldado.


    BICHEIRO

    Mas é seu Tenório
    Bicheiro da vila
    Com seu criatório
    Esperto e finório,
    Trazendo seus bichos
    Aí está seu Tenório!

    Agora o casório
    Mateus-Catirinha
    - Um par de simplórios!
    Não é mais ilusório…

    Esperto e finório,
    Trazendo seus bichos
    Aí está seu Tenório!


    BICHOS DA NOITES

    São muitas horas da noite
    São horas do bacurau
    Jaguara avança dançando
    Dançam caipora e babau

    Au, au, au…au

    Festa do medo, do espanto
    De assambrações um sarau
    Furando o tronco da noite
    Um bico de pica-pau

    Au, au, au…au

    Andam feitiços no ar
    De um feiticeiro marau
    Mandingas e coisas feitas
    Do Xangô de Nicolau

    Au, au, au…au

    Medo da noite escondido
    Nos galhos de um pé de pau
    A toda dança acompanha
    Tocando o seu berimbau

    Au, au, au…au

    Um caçador esquecido
    Que espreita de alto girau
    Não vê cotia nem paca
    Só vê jaguara u babau

    Au, au, au,…au

    Medo da noite, caveira
    Na ponta de um varapau
    Há um pio longo, agourento
    -É mãe da lua, urutau

    Au, au, au…au

    junto da grande coité
    onde prepara um mingau
    mexe e remexe, mexendo
    a sombra de galalau

    Au, au, au…au

    E um braço morto, invisível
    Atira nagua um calhau
    E as águas giram seus discos
    Até um funil de um perau

    Au, au, au…au

    Finge que fuma e defuma
    Fumando seu catimbau
    Medo da noite com o rosto
    Pintado de colorau

    Au, au, au…au

    Numa cangalha navegam
    Como se fosse uma nau
    E içando as velas, mortalhas
    Passam jaguara e babau

    Au, au, au…au

    Montando um porco do mato
    Como se fosse um quartau
    Caipora vai perseguindo
    O jacaré ururau

    Au, au, au…au

    Alguém soluça e lamenta
    Todo esse mundo tão mau
    Bicando a sombra da noite
    Pinica e pinica o pau

    Au, au, au…au

    Alguém no rio agoniza
    No rio que não dá vau
    Alguém na sombra noturna
    Morreu no fundo perau

    Au, au, au…au


    CAIU CAIU
    Caiu caiu
    Em terra ausente
    Dos seus mais justos senhores
    Terra que fugiu das mãos
    Dos mais simples lavradores

    Caiu
    Da flor a semente
    Não do fruto em noite escura
    Semente, verde semente
    Que um dia será madura.


    COBRA

    Vem o sol nascendo
    Quando a morte passa

    Parece dormir
    Num chão de palha
    Cascavel terrivel
    Cascavel chocalha
    Cobra salamanta!
    Cobra coral!
    O gado mordido
    Não volta ao curral

    Vem o sol nascendo
    Quando a morte passa

    É surucucu
    Pico-de-jaca
    É cobra tapete
    É a jararaca
    Na manhã nascente
    Passa na estrada
    Jararacussu
    Urutu dourada
    Vem o sol nascendo
    Quando a morte passa


    EMA

    Gavião quando peneira
    Peneira como urupema
    Os bichos que são velozes
    Não correm mais do que a ema

    Correndo campos, baixos
    Com matagis de jurema
    Correndo o curso dos rios
    Não correm mais do que a ema

    Foge medroso o covarde
    Antes as armas de um curema
    As nuvens da tempestade
    Não correm mais do que a ema.


    ENGENHEIRO

    Cuidado com o engenheiro
    Que vem as terras medir
    Ele é mais que feiticeiro
    Para encantar e iludir

    Seu instrumento: uma aranha
    Tecendo vai os seus fios
    E sempre alguém se emaranha
    Nos seus desenhos vazios

    Seu instrumento é roleta
    De muitos mede a má sorte
    Com traços de linhas retas
    Separa a vida da morte


    RETIRANTE

    Daquele lado o que vemos
    É uma figura de sombra
    De gestos, cinza e silêncio
    Quem de longe a vê se assombra

    Por terras secas, desertas
    Parece que é um retirante
    Sentimos sua tristeza
    Tão sem tempo e tão distante


    FUI, FUI, FUI

    Fui, fui, fui
    Em fuga fui, fugindo fui

    Cocorobó
    Patamoté
    Massaracá
    Geremoabo

    Fui, fui, fui
    Em fuga fui, fugindo fui

    Vasabarris
    Aracati
    Tapicuru
    Jacuruci

    Fui, fui, fui
    Em fuga fui, fugindo fui.


    GURIATÃ, CURIÓ

    Guriatã, curió
    Oh! patativa golada
    Oh! Meu galo de campina
    Cantando desde a alvorada

    Sabiá da mata, sabiá
    Sabiá gongá

    Papa-capim, pintassilgo
    Oh! Meu bem-te-vi passarinho
    Saudando quem vai passando
    Ao longe pelo caminho

    Sabiá da mata, sabiá
    Sabiá gongá

    Oh! Minha ave araponga
    Ferreiro deste sertão
    Teu canto bate na serra
    Responde o meu coração

    Sabiá da mata, sabiá
    Sabiá gongá

    Cantadores do Nordeste
    Cantando ao som do baião
    Galopes a beira-mar
    E os oito pés do quadrão

    Sabiá da mata, sabiá
    Sabiá gongá

    Cantando vamos ao longe
    Pela estrada do sertão
    Cantando, vamos cantando
    Salvar o boi e a nação

    Sabiá da mata, sabiá
    Sabiá gongá


    MINHA FLOR, MINHA TERNURA

    Minha flor, minha ternura
    Meu jardim de malmequeres
    Meu jardim de paquiviras
    Teu silêncio se estendeu
    Nas folhas das macambiras

    Canário, canário branco
    Canário branco

    Teu corpo ficou ferido
    Teu coração ficou preso
    Nos gravatás dos espinhos
    Tua voz se ttransformou
    No canto de um passarinho

    Canário, canário branco
    Canário branco

    Teu corpo se converteu
    Na sombra de um ramo seco
    Ramo simples de favela
    Aonde rompeu as asas
    A canarinha amarela

    Canário, canário branco
    Caneario branco

    Eis a sombra que restou
    Da bela fronde primeira
    Quando em sombras desfolhadas
    Arrastada pelo vento
    Se perdeu na ribanceira

    Canário, canário branco
    Canário branco.


    MORTE DO BOI

    O meu boi morreu
    Meu boi surubim
    Que comprei na feira
    De Belo-Jardim

    Agora na vida
    Que será de mim
    Sem meu boi ponteiro
    Meu boi surubim

    Morreu, meu boi, morreu
    Meu boi surubim
    Sou pobre de tudo
    Sou pobre de mim.


    O AVIÃO

    O avião, o avião, a avião caiu
    Um luz no céu passar eu ví
    O avião, o avião, o avião caiu
    Na serra de Comunati

    Ouvi passar Rasga-Mortalha
    Ouvi cantar Pitiguari
    O avião, o avião, o avião caiu
    Na serra de Comunati.


    O DOUTOR

    Vem o doutor, vem trazendo
    Sua seringa na mão
    E às vezes, mesmo, benzendo
    Quando não há salvação

    Ai doutor!
    Ai doutor!

    Pastilhas, pós e pomadas
    Emplasto, unguento e xarope
    Tantas meizinhas usadas
    Que a morte foge a galope

    Ai doutor!
    Ai doutot!

    Cura os que vão pela vida
    Das tripas desarranjadas
    Cura a espinhela caída
    A califa e o mau olhado

    Ai doutor!
    Ai doutor!


    O BOI MORREU / TARDE VIM

    O boi morreu, tarde vim

    Nem mesmo pude saber
    A que verdade cedeu…
    -Este boi, de que capricho
    de que inocência morreu?
    Do sonho fiz um remédio
    Que cura as dores mais fortes
    Que dá consolo e esperança
    Aos que adormecem na morte.
    O boi morreu. Tarde vim
    E não lhe pude aplicar
    O meu mais certo saber:
    Que é o de dar um sonho à morte
    Que é o de ajudar a morrer.


    PRODUTOR

    Vem na frente o produtor
    Logo após o economista
    Mais atrás com seu tambor
    O sagaz propagandista

    Dizem que são justiceiros
    Produtores de abundância
    Na verdade são coveiros
    No cemitério da infância

    De tamanhos produtores
    Bem se conhece o produto
    Terras secas, gado morto
    Gente faminta, de luto.


    REVERENDO

    Pelos caminhos chegando
    É um padre que estou vendo
    Daqui lhe faço a pergunta
    A quem vem, seu reverendo?

    Está de batina branca
    Pois faz um calor
    Tremendo
    Assim repito a pergunta:
    A que vem, seu reverendo?


    SOU FILHO DE PERNAMBUCO

    Sou filho de Pernambuco
    Lá das bandas de Carpina
    Da cana gosto do suco
    Que tem nome Monjopira
    Eduquei-me no trabuco
    Matar gente é minha sina

    Nasci também nesta terra
    Que o sol castiga e descora
    - terra de joaquim Nabuco -
    Homem de bem, homem certo
    Que era muito diferente
    Desses "nabucos" de agora

    Há muito que por aqui
    Um sanguesinho não há
    Mas pelo jeito parace
    Que as coisas vão melhorar
    Pois seu coronel Nonô
    Acaba de me chamar

    Há de ser briga valente
    Com muito sangue de gente
    Vai correr sangue de boi
    E ninguém há de sobrar
    Pra contar como é que foi.

    TEMA DO CAPITÃO

    Saibam todos os presentes
    Que, para aqui enviado,
    No meu cavalo marinho
    Sou capitão bem montado

    Sou conde condecorado
    Com a cruz do tempo e do ar
    Capitão de Altas Milícias
    Cavaleiro de Além Mar

    Venho aqui pela justiça
    O justo direito de dar
    Venho persequir os fortes
    E os fracos desagravar

    Sou conde condecorado
    Senhor de grande solar
    Comigo trago mandato
    De tudo remediar

    Sou conde condecorado
    Com a cruz do Tempo e do Ar
    Sou comandante das nuvens
    Errante no pelejar.


    TEMA DO VALENTÃO

    Quem é este que vem aí
    Mais forte que um arsenal?
    Mais perverso que valente
    Mais frio do que um punhal?

    Vem pela sombra do mato
    Tocaia encruzilhada:
    E a morte ronda os caminhos
    Até o raiar da madrugada


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