Soprou

Espiritualidade e ancestralidade em “Soprou” de Silva

Em “Soprou”, Silva faz uma homenagem direta à cultura afro-brasileira, usando referências como o ritmo Ijexá e a menção a Airá, orixá dos ventos. A música vai além de exaltar a natureza: ela constrói uma ligação entre espiritualidade, ancestralidade e pertencimento. O verso “Minha paz é tambor / Alegria Ijexá” mostra como a busca por tranquilidade está conectada ao som do tambor, símbolo de celebração e resistência nas religiões de matriz africana. Já “No Àiyé de Airá” faz referência ao mundo terreno regido por esse orixá, reforçando a ideia de que o vento e a brisa são manifestações do sagrado no dia a dia.

A repetição de imagens como “Te vejo no céu / Te sinto no ar / No vento uma brisa / Que vêm me acalmar” sugere uma experiência de paz e conexão espiritual mediada pelos elementos naturais, principalmente o vento, que aparece como mensageiro e fonte de renovação. O trecho “Trás pra mim / Teu louvor / Reza de fé / Unidade Nagô / Haja ori pra cuidar” aprofunda essa dimensão, evocando a força da fé, a união dos povos nagôs (de origem iorubá) e a importância do ori (cabeça, consciência) para o equilíbrio e proteção espiritual. A participação de Criolo, especialmente nos versos “Tua pele na minha é verbo / Minha boca na tua é luar”, traz uma camada de intimidade e sensualidade, mostrando que a espiritualidade também se manifesta no encontro humano e no afeto. Ao incluir elementos humanos na gravação, como contagens e suspiros, Silva aproxima o ouvinte da experiência coletiva do samba, tornando “Soprou” um convite à celebração da vida, da ancestralidade e da esperança.