É Que Eu Nasci Teimoso

Resistência e pertencimento em “É Que Eu Nasci Teimoso”

Em “É Que Eu Nasci Teimoso”, TCHELO transforma a “teimosia” em estratégia de sobrevivência coletiva, não em ego. Ao chamar a quebrada de “meu castelo de lata”, ressignifica a precariedade como brasão de pertencimento e conquista. A mensagem é persistir apesar da dor e do cinismo: aprender “na prática”, aceitar o sacrifício como rotina e entender que aparência — a “decoração da sala” — não resolve. Isso conversa com a trajetória do artista, criado na Zona Oeste de São Paulo e lançado na pandemia, e com a proposta do álbum homônimo: usar a própria história para mostrar que dá para atravessar traumas e deixar marca. O tom é de frieza lúcida e orgulho: ele admite confusão e fome antiga, mas reafirma método e resultado, convertendo trabalho em consequência e sucesso em ferramenta para os seus.

As imagens de guerra e de mercado se fundem para explicar o corre: “municiado e pronto pra guerra” vira preparo mental; “poder de fogo” se converte em “poder de troca” — “dinheiro limpo”, status e circulação que abrem portas. Daí o duplo sentido de “poder chegar na quebrada e tirar mais alguém da boca”: tanto resgatar da “boca de fumo” quanto da boca vazia da fome, coerente com “fiz meu corre sem pisar em ninguém”. O relógio Bulova e os “cem mil” não são ostentação; são prova de esforço e munição simbólica para inspirar os seus, como o próprio TCHELO declarou sobre o disco. A recusa à validação digital — “meu critério é a rua” — e o orgulho de ver o sorriso da mãe firmam a postura: firme, reta, independente. O beat trap curado por Retroboy intensifica o clima de combate e vitória suada, alinhando som e mensagem à missão de mirar o sonho e puxar a quebrada junto.