Fog As a Bullet

“Fog As a Bullet”: luto, névoa e perda em The Marias

“Fog As a Bullet” transforma a névoa em munição — “fog as a bullet” (névoa como bala). Escrita um dia após a morte de Kobe Bryant no acidente de helicóptero causado pela neblina em Los Angeles, a música captura a descoberta de que o belo também fere. O luto aparece como tempo suspenso em “Estaré contando el tiempo en mí / Contando hasta morir” (Estarei contando o tempo em mim / Contando até morrer), um relógio interno que passa a marcar a vida depois da perda. Carinho e raiva se misturam em “Qué falta me haces aquí” (Que falta você me faz aqui) e “Qué rabia que ya tú no estás” (Que raiva que você não está mais). O refrão repetido — “Llorando, me la paso llorando / Me la paso añorando / Me la paso en ti” (Chorando, passo o tempo chorando / Passo o tempo com saudade / Passo o tempo em você) — reforça o ciclo inevitável de chorar, lembrar e viver voltado para quem se foi.

A imagem da névoa nasce de uma experiência real: dois dias antes da tragédia, María Zardoya admirava a neblina em Los Angeles; depois, viu seu poder destrutivo. Isso ecoa em “volando entre niebla y el mar” (voando entre a névoa e o mar), onde a névoa vira fronteira incerta e o mar amplia a desorientação. Já “volando entre dioses y paz” (voando entre deuses e paz) sugere tanto a travessia de quem partiu para um além idealizado quanto o delírio de quem, no luto, oscila entre espiritualidade e busca de serenidade. O título condensa essa tensão: algo suave com impacto fatal, metáfora da imprevisibilidade e da fragilidade da vida, cristalizada no gesto de contar o tempo, chorar e se agarrar à memória.