Woke Up From A Dream

Reflexos de identidade e desejo em “Woke Up From A Dream”

Mais do que um relato de separação, “Woke Up From A Dream”, de The Paper Kites, descreve o choque de acordar sem de fato despertar. O “estranho” do quarto não é um intruso, mas um lado do eu que o narrador evitava encarar: “a stranger that I keep in my room” (um estranho que mantenho no meu quarto). As imagens iniciais de conflito e vazio — “a hole at work asleep in the night” (um buraco em atividade, adormecido à noite) — sugerem anestesia emocional e hábitos que abafam o que dói, enquanto a mente continua desejando “other things” nunca nomeadas. O refrão concentra o paradoxo: “Like I woke up from a dream only to find that I still hadn’t woke up” (Como se eu tivesse acordado de um sonho só para perceber que ainda não tinha acordado).

A “cinema view” (visão de cinema) aponta para a desilusão com versões idealizadas de vida e amor, repetidas “on repeat” (em repetição) e que sussurram ser “better than you” (melhor do que você), expectativas que apertam “like a grip” (como um aperto). Ao admitir “I’ve been feeding a lie” (Eu tenho alimentado uma mentira), ele reconhece conivência com essa fantasia. A “misdirection” (desvio) e a multidão indo “different ways” (caminhos diferentes) mostram como essas pressões fragmentam escolhas e identidade. “It’s just your sweet love gone” (é só o seu doce amor que se foi) tanto pode ser um término concreto quanto o fim da doçura idealizada que sustentava a mentira. Repetindo “I’ve gotta find a different way to go about it” (Eu tenho que encontrar um jeito diferente de lidar com isso), ele ensaia um recomeço. No fecho, a lucidez é amarga: “I was asleep / all the things that weren’t right / were still going on” (Eu estava dormindo / todas as coisas que não estavam certas / ainda estavam acontecendo). Despertar não corrige o mundo de imediato, mas abre a porta para ajustar o rumo com honestidade.