A Língua Prova Que

A Sabedoria da Língua: Uma Jornada Espiritual em 'A Língua Prova Que' de Tom Zé

A música 'A Língua Prova Que' de Tom Zé é uma obra rica em simbolismo e referências à mitologia iorubá, uma das bases culturais do candomblé. A letra começa com uma invocação a Olorun, o deus supremo na religião iorubá, pedindo por luz, pão e elevação espiritual. Essa introdução estabelece um tom de reverência e espiritualidade, preparando o ouvinte para uma narrativa que explora a criação do mundo e a complexidade da natureza humana.

A narrativa central da música gira em torno de Obàtálá, um dos orixás mais importantes, encarregado por Olorun de criar a terra e a humanidade. No entanto, a criação do ser humano se revela problemática, pois a primeira ideia que surge na mente humana é a de ser superior aos deuses. Essa passagem reflete a arrogância e a ambição desmedida que muitas vezes caracterizam a humanidade, um tema recorrente em diversas mitologias e religiões.

A solução para essa falha humana é encontrada em Orunmilá, que é eleito o primeiro Babalaô, um sacerdote sábio e conhecedor dos mistérios divinos. A prova de sua sabedoria é demonstrada através da metáfora da língua de touro, que simboliza tanto o poder construtivo quanto destrutivo da palavra. Orunmilá prepara a língua como o melhor e o pior prato, mostrando que a mesma língua que pode abençoar e unir, também pode caluniar e destruir. Essa dualidade da língua é uma poderosa metáfora para a responsabilidade que vem com o dom da comunicação.

A música conclui com a eleição de Orunmilá como o primeiro Babalaô, um reconhecimento de sua sabedoria e capacidade de guiar a humanidade. A repetição do refrão reforça a importância dessa escolha e a esperança de que, sob a orientação de Orunmilá, a humanidade possa encontrar um caminho de redenção e harmonia. 'A Língua Prova Que' é, portanto, uma reflexão profunda sobre a natureza humana, a espiritualidade e o poder das palavras, temas que são centrais na obra de Tom Zé, um artista conhecido por sua capacidade de mesclar crítica social com elementos culturais e religiosos de forma inovadora e provocativa.