O Côco Vai Começar

A Festa e a Fé em 'O Côco Vai Começar' de Totonho & Os Cabra

A música 'O Côco Vai Começar' de Totonho & Os Cabra é uma mistura vibrante de elementos culturais, religiosos e sociais do Nordeste brasileiro. A letra começa com uma cena inusitada: uma rave acontecendo durante a Sexta-Feira da Paixão, um dia de grande significado religioso para os cristãos. A presença de camelôs, espetos de bode assado e carros-pipa em contramão cria um cenário caótico e ao mesmo tempo festivo, onde o sagrado e o profano se encontram. Jesus, ensanguentado e arretado, é uma figura central que, em meio à confusão, é acalmado por um bêbado, mostrando uma humanização do divino em um contexto popular.

A narrativa segue com uma batida em Belém, onde mulheres, rum e viagens alucinógenas se misturam, criando uma atmosfera de celebração e escapismo. A presença de um 'cabra da lei' procurando um DJ e a contratação de 'romeiros digitais' para ocupar canais de rádio refletem a interseção entre a tradição e a modernidade, onde a cultura popular se adapta e resiste às mudanças tecnológicas e sociais. A figura do 'magrelo cabeludo' lendo um gibi e Ourisco, o matador, puxando a calça do bispo, adicionam um toque de humor e irreverência à narrativa.

O refrão repetitivo 'O côco vai começar, o côco já começou' reforça a ideia de que a festa e a celebração são constantes e cíclicas, uma parte intrínseca da vida nordestina. A menção ao filme 'O Vento Levou' e a cena final na Avenida Caxangá, com o galo da madrugada cantando, evocam imagens de resistência cultural e memória coletiva. A música, com sua mistura de elementos tradicionais e contemporâneos, celebra a resiliência e a alegria do povo nordestino, mostrando que, apesar das adversidades, a festa nunca para.