48 (feat. Frank Ocean & Nas)

Culpa e sobrevivência no tráfico em “48 (feat. Frank Ocean & Nas)”

“48 (feat. Frank Ocean & Nas)”, de Tyler, The Creator, aborda de forma direta o ciclo de culpa e sobrevivência ligado ao tráfico de crack nos Estados Unidos. Tyler assume explicitamente a responsabilidade pelo sofrimento causado, como no verso: “I am the reason your family is using and shootin' up, it’s my fault / You can blame me motherfucker, for killin' your aunties and uncles” (“Eu sou o motivo pelo qual sua família está usando e se drogando, é minha culpa / Você pode me culpar, filho da puta, por matar suas tias e tios”). Essa admissão de culpa, pouco comum em músicas sobre o tema, revela o peso moral que o personagem carrega, mesmo tentando justificar suas ações pela necessidade de sobrevivência e ascensão social. O refrão “48, 48, 48 States I get it in” (“48, 48, 48 estados, eu faço isso”) destaca que o tráfico é um problema nacional, não restrito a uma região específica.

O interlúdio de Nas, logo na introdução, reforça o tom reflexivo ao questionar se quem lucrou com o crack sente remorso, conectando-se à narrativa de Tyler, que oscila entre orgulho e arrependimento. A letra mostra as consequências do tráfico: famílias destruídas, sonhos interrompidos (“She could have been a doctor, nigga, I’m sorry / Could have been a actor and won that Oscar, said, I'm sorry” – “Ela poderia ter sido médica, me desculpe / Poderia ter sido atriz e ganhado um Oscar, disse, me desculpe”) e a sensação de estar preso a esse ciclo. O trecho “all I wanted was a cheeseburger / And a little chain tuck, didn’t realize this game fucked, up some lives” (“tudo o que eu queria era um cheeseburger / E uma correntinha, não percebi que esse jogo destruiu algumas vidas”) mostra como desejos simples podem levar a escolhas devastadoras. Assim, Tyler expõe não só a realidade do tráfico, mas também o impacto psicológico e social desse universo, tornando “48” uma reflexão honesta sobre responsabilidade, culpa e sobrevivência.