Narration

Narrativa

Eu nasci Jonathon Aaron Steel, filho de William e Elizabeth
steel. Sou de Leão, nascido sob o signo do leão e fui criado em uma
família de classe média baixa com apenas um irmão, Michael, que eu amo
muito. Ele era cinco anos mais velho que eu. O apelido do meu pai era Red, o que eu
nunca consegui entender, porque seu cabelo era loiro claro. Mesmo assim,
o nome pegou. Então, quando meu irmão nasceu, meu pai virou Big Red e
meu irmão Little Red. Eu deveria ter percebido desde a primeira vez que
percebi a conexão especial deles, que eu simplesmente não me encaixava nos
planos do meu pai. E à medida que fui crescendo, a constante comparação entre meu
irmão e eu deixou pouca dúvida sobre quem era a imagem da perfeição nos
olhos do meu pai. Para ele, meu irmão não podia errar e eu me tornei o
Menino Invisível, a proverbial 'ovelha negra' e logo percebi que
vermelho e preto não combinam. As surras que eu recebia se tornaram cada vez
mais frequentes a ponto de eu perguntar ao meu pai: "Sou o filho órfão
que você nunca precisaria?" Mas, estranhamente, eu adorava o chão onde meu pai
andava.

Meu irmão e eu éramos uma mistura estranha, tão diferentes quanto dia e
noite. Olhando para trás, é difícil imaginar que viemos dos mesmos pais. Eu
às vezes me perguntava se tínhamos o mesmo pai, mas sempre descartava essa
ideia, pois minha mãe era religiosa demais, meu pai também, para sequer
pensar em algo assim. Mas meu irmão, que sempre percebeu as inseguranças
incutidas em nós pelos nossos pais, tentava me encorajar ao máximo. Pois eu
nasci diferente e ele sabia disso. Ele costumava me dizer que quando eu
nasci, um anjo voou sobre minha cama e me batizou com uma varinha mágica e
disse: "Você será o escolhido". E eu não fazia ideia do que 'o escolhido'
era, mas à medida que fui crescendo, comecei a entender. A maioria dos meninos
coloca a mãe em um pedestal e a adora como a Virgem Maria, mas com ela
minha relação era diferente e não para o bem. Ela era opinativa, sem
escolaridade, às vezes preconceituosa, autoritária, acreditava em tudo que
lia, verdadeiro ou não, e quando se tratava de religião, era
exageradamente zelosa, para dizer o mínimo. Uma combinação de deixar a
cabeça girando, mas ela era bonita, muito bonita, e eu frequentemente me
perguntava, beirando a confusão total, como uma pessoa com essa descrição
podia racionalizar a vida.

Essas eram características que muitas vezes na minha vida eu olharia
com espanto e as mulheres que eu procurava quando cresci não tinham nada a
ver com ela. Na dor da juventude, a miséria do meu descaso se manifestava
de várias maneiras; depressão - meu inimigo, medo - meu amigo, ódio - meu
amante, e raiva - combustível para meu fogo. Essas quatro características
da minha personalidade se tornariam a força orientadora da minha vida e
controlariam tudo que eu fazia ou me tornaria. Eu explicarei mais tarde na
história sobre elas, que eu chamo de minhas Quatro Portas da Desgraça.

O espelho, o grande brinquedo da vaidade do homem. O espelho se tornaria,
em certos momentos, meu altar de refúgio e em outros, meu alter ego e sua
magnífica obsessão por uma busca incessante de atenção. Ele servia como
um reflexo arrepiante da minha própria miséria e da minha grandeza. Era o
único lugar onde eu podia ir para ver dentro de mim, para encontrar amor,
em uma casa que de outra forma era desprovida de amor, onde eu poderia ser
grande, onde eu poderia ser qualquer coisa ou qualquer um que quisesse ser -
uma escapada cem por cento pura até que eu descobrisse seu precioso segredo.
O espelho vive, respira, fala, mente, tem uma personalidade própria. É um
gênio que realiza todos os desejos que você poderia sonhar, pelo menos no
meu caso - todos, exceto dois.

Era meu 14º aniversário, o dia que mudou minha vida para sempre. Meu
irmão Michael, a única pessoa que era minha luz guia, meu amigo, meu herói,
faleceu atropelado por um motorista bêbado em uma colisão frontal. Ele
morreu instantaneamente. Eu não consegui nem mesmo ir ao seu funeral. Minha
agonia era tão grande que eu simplesmente não consegui encarar ele mais uma
vez. Minha falha em comparecer intensificou ainda mais o ressentimento dos
meus pais por mim. Mas a partir daquele momento, nada parecia importar,
especialmente aquele inferno chamado 'casa'. Por um ano após sua morte, eu
perambulei pelas ruas em um nevoeiro, mal consciente de qualquer coisa ou
de alguém. Descobri o álcool, as garotas, as drogas e, em geral, uma vida
que eu nunca conheci, que era emocionante, assustadora e maravilhosamente
desafiadora. E foi então que, enquanto eu cambaleava por uma rua do centro
da cidade em uma de minhas fúrias bêbadas, eu tropecei em uma pequena loja
de música e na vitrine estava o instrumento, a ferramenta ardente que se
tornaria o objeto do meu novo desejo. O instrumento da minha paixão, minha
obsessão, a guitarra vermelha sangue. Era como se eu conhecesse aquilo a
minha vida toda.

Logo percebi que era a única maneira de eu realmente me expressar. Era uma
forma de liberar todas as minhas frustrações e toda a minha dor -
completamente abri todas as minhas Quatro Portas da Desgraça e percebi que
estava indo ao espelho para buscar conselhos cada vez menos. Por causa
disso, minhas músicas pareciam se escrever sozinhas e eu sabia que meu
destino estava na minha música, mas eu teria que sair daquela cidade
retrógrada se quisesse ter sucesso. Eu tinha 16 anos e não ia a lugar
nenhum e a única coisa que meus pais sabiam era 'viver, trabalhar, morrer'.
E se eu ficasse lá, era exatamente isso que ia acontecer comigo - eu ia
morrer. Então eu fugi para a grande cidade com as luzes, a emoção e o
perigo e uma chance de finalmente viver e fazer minha música sem a
perseguição que conheci por tanto tempo. Eu fiz carona até lá com uma
mala em uma mão e minha guitarra na outra e, ao chegar na borda da cidade,
a magia do lugar era incrivelmente intensa. Seria meu novo lar, o lugar que
chamaria de 'Arena do Prazer'. Eu vivi e lutei na arena por dois anos,
tentando conseguir uma oportunidade na música e gravar um disco e foi
quando conheci um empresário encantador chamado Charlie. Ele tinha sido
advogado por 25 anos antes de descobrir que poderia enganar mais pessoas
na indústria da música do que jamais poderia em um tribunal e ele era o
presidente de uma das maiores gravadoras do mundo. Para Charlie, o
negócio da música não era nada mais do que um cordeiro sacrificial a ser
levado ao abate e a arma de escolha era sua gravadora, que ele empunhava
como uma espada poderosa. A grande ferramenta que ele se referia carinhosamente
como 'A Motosserra'. O necrotério, Charlie dizia, era o negócio da música,
donde todos se vendem. Onde todos os artistas eventualmente se prostituem
para o comercialismo, o lugar onde a música vai morrer. E através dele eu
aprendi tudo que precisava saber sobre o negócio da música e até coisas
que não queria saber. Ele disse que poderia me fazer uma estrela, uma das
maiores coisas que o mundo já viu. O grande momento estava chamando e eu
estava a caminho. Ele me apresentou a um jovem gerente aspirante chamado
Alex Rodman e juntos enfrentamos o mundo todo e chutamos sua bunda.

Pouco antes do lançamento do meu primeiro álbum, eu estava sentado nos
degraus em frente ao meu apartamento quando uma mulher cigana passou. Ela
parou e me perguntou se eu gostaria de ter meu futuro lido e eu nunca tinha
feito isso, então fiquei mais do que feliz em dizer sim. Ela revelou um
baralho de cartas de Tarô e começou a me contar sobre meu passado, no qual
ela entrou em grandes detalhes sobre a dor da minha juventude, meu irmão e
meus pais. Ela viu meu presente com minha grande luta para ter sucesso e
realizar meus sonhos e nova felicidade, mas depois de cerca de dez minutos
ela parou e eu queria saber sobre meu futuro e implorei para que ela
continuasse e finalmente ela falou. Ela me mostrou uma visão muito
perturbadora de onde eu estava indo. Eu disse a ela que queria uma
riqueza fenomenal e fama e nas cartas ela viu um herói caído e olhou para
mim e disse: "Cuidado com o que você deseja - pode se tornar realidade,
pelo rosto da morte usa a máscara do Rei da Misericórdia". Eu perguntei se
ela tinha certeza do que tinha visto e com um olhar vazio ela se virou e
se afastou, deixando-me com as cartas e um assombro que me seguiria pelo
resto da minha vida.

O sucesso concordou comigo com uma facilidade surpreendente. Quanto mais
discos eu vendia, mais excesso eu tinha de tudo - amigos, dinheiro, mulheres,
carros, casas. Foi em uma das minhas noites de hedonismo que um indivíduo
flash entrou na sala. Ele se apresentou como o Doutor. Eu perguntei que tipo
de doutor e ele sorriu e disse: "Conheça meu amigo Tio Sam". O espelho que
uma vez estava na parede, meu alter ego, agora estava falando comigo da
mesa e os próximos três anos foram um borrão. As drogas se tornaram o
novo doce e o álcool se tornou a nova Coca-Cola e o Doutor Rockter era
meu novo melhor amigo e eu nunca ouvi o espelho falar novamente até esta
noite.

Eu estava no auge da minha carreira e o mundo me via como eu sempre quis,
O Ídolo, o Grande Ídolo Carmesim. Agora eu tinha tudo, parecia,
tudo, menos a única coisa que significaria mais para mim do que qualquer
outra coisa. A dor que se manifestou em minha obsessão, a aceitação de mim
pelo meu pai e pela minha mãe, com quem não falava desde que deixei
casa.

Uma manhã, meu gerente Alex entrou e interrompeu uma das nossas festas
noturnas de Easy Rider. Uma festa de Easy Rider era quando todo mundo
vinha para minha casa, a banda, o doutor, mulheres quentes e frias, etc.
E assistíamos ao filme e fazíamos tudo que acontecia no filme, só que
muito mais. E ele ameaçou me deixar se eu não limpasse tudo. Não era que
ele se importasse comigo como pessoa, ele estava apenas interessado no meu
talento e no que eu poderia fazer para avançar sua própria carreira como um
verdadeiro magnata do showbiz. Mas foi então que percebi o quão longe as
coisas tinham ido. Então eu sentei lá sozinho em meu palácio de dor e eu
estava apenas entorpecido pelo álcool e pelas drogas, mas igualmente
intoxicado pela minha própria fama e tive coragem suficiente para pegar o
telefone e discar o número. Minha mente entrou em um turbilhão pensando no
que aconteceria e o medo me dominou e eu comecei a colocar o telefone
down, mas antes que eu pudesse, uma voz do outro lado soou e me enviou um
calafrio que eu nunca conheci. Era minha mãe. Foi difícil para mim falar,
meu coração batendo forte, mas quando falei, fiz o melhor que pude. Ela
estava muito fria. Mas eu sabia que o choque de ouvir de mim de repente,
depois de todos esses anos, era esmagador e eu esperava que todo o tempo
que havia passado curasse as feridas profundas entre meus pais e eu, mas...
Eu queria desesperadamente que eles aprovassem de mim, que me aceitassem -
era tudo que eu sempre quis. Eu esperava que meu sucesso finalmente
provasse minha dignidade e que eles recebessem o filho pródigo de volta.
Tudo que eu queria era que eles se orgulhassem de mim, mas menos de 50
palavras foram ditas. As últimas quatro foram: "Nós não temos filho".

Algumas feridas nunca cicatrizam e a minha me marcou para a vida toda. Uma
grande estrela caiu do céu naquela noite e com sua descida deixou um caminho
queimado em seu caminho - um grande caminho de autodestruição antes de
se apagar. E nesta noite, o grande final finalmente chegou. 'Cuidado com o
que você deseja - pode se tornar realidade.' Longa vida, longa vida ao
Rei da Misericórdia.