Não É Insônia

Saudade sem sono em “Não É Insônia”, de Zé Neto e Cristiano

“Não É Insônia” transforma um sintoma em diagnóstico afetivo: “Não é insônia”, é saudade que ocupa a madrugada. As perguntas repetidas — “Por que cê some?” — e a contagem de “oito noites” tornam a falta palpável, como quem mede a distância no relógio e no travesseiro. O eu lírico perdeu a tranquilidade — “Vem trazer de volta a minha paz” — e admite o efeito físico do vazio: “Por causa de você não consigo dormir”. Ele tenta segurar a presença pela memória do corpo, no “calor” e no “cheiro no meu cobertor”. As imagens do quarto concentram a cena: teto que “tem dó”, cama vazia, nome dito no escuro. A “insônia” funciona como metáfora direta de um amor que não desliga; o sumiço dela sugere instabilidade ou afastamento que alimenta a ansiedade. A repetição de pedidos e perguntas reforça a urgência e simula o looping mental de quem sofre de saudade.

No projeto ao vivo Por Mais Beijos ao Vivo (lançado em março de 2020), Zé Neto e Cristiano transformam essa confissão em coro. O gancho “Não É Insônia, é amor” vira grito coletivo, algo que, no registro no Expominas (31/10/2019), ganha força com a repetição que a própria letra pede. A composição de Henrique Andrade, Gustavo Andrade, Weverson Constantino e Gustavo Miranda aposta em imagens domésticas e sensoriais — “teto”, “calor”, “cheiro” — para concretizar a falta, alinhada ao mote destacado nos materiais de divulgação: não é problema clínico, é ausência de amor. O videoclipe oficial, divulgado em abril de 2020, reforça essa leitura e amplia a identificação de quem já passou noites em claro tentando trazer de volta, nem que seja pela lembrança, aquilo que acalma o peito.