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Samba do Reco-reco

Zebeto Corrêa

Letra

    No quintal do reco-reco,
    Batucada combinada,
    Cada um arranja um treco
    Pra fazer seu repeteco.

    Faz firula, faz intriga,
    Estica a rima na barriga,
    Leva um lero de chaveco,
    Põe o sol num teco-teco
    E esconde a lua no caneco.

    No samba do reco-reco
    Quem não dorme se sacode.
    E cada um arranja um treco
    Pra fazer seu repeteco.

    Num completo troca-troca
    De palavra dorminhoca
    Cada um, direto e reto,
    Põe seu verbo predileto
    No gogó do dialeto.
    (E rima eco com marreco, pra levar um peteleco)

    No quintal do reco-reco,
    Pra inspirar cada poeta,
    Todo mundo a língua enrola...
    Espicha o sol, alonga a lua
    E vai tocar no fim da rua,
    Pra afinar sua viola.

    No quintal do reco-reco,
    Numa esquina bem discreta,
    Cada estrela é uma menina
    Que também só come rima:
    Bebe luz de lamparina
    E estala ovo cor-de-rosa,
    De rosa pintada, no teto.

    De poesia, assim, servida
    (Em cada mesa uma comida):
    No lugar do peixe-frito
    Estrela e lua é tira-gosto
    E o sol é posto no palito.

    Nesse samba do reco-reco
    O prato do dia é composto:
    Sapo ensopado: Não pode!
    Mas pode virar pagode
    Ensaiado, no sapatinho.
    (E o pato, a passo de bamba,
    Com papo de passarinho)

    No tatibitate da festa
    (Bateria que não começa)
    Na cuca, a cuíca completa
    O tamborim que atravessa
    Meu pandeiro
    Em pandarecos.
    E dá-lhe então telecoteco
    (Sapato riscando o sinteco):
    Na fuzarca desse boteco.

    E depois, com muito afeto,
    (No alfabeto do reco-reco)
    Cada um arranja um treco
    Pra fazer seu repeteco.
    E o poeta, pobre coitado,
    Com fome, refaz seu verso:
    E estica a rima na barriga.

    Come, enfim, poema assado:
    O verbo roncando na pança,
    (A musa atiçando a lembrança)
    E no prato de sonho, a comida:

    - Panqueca de sol bem passado
    - Omelete de lua, com escrita,
    - Cozido de algum dicionário
    - Bolinho de vocabulário
    - Amor grelhado na chapa...
    E um bife com palavra frita!

    No samba do reco-reco
    Só sobra poesia no papo.
    E muita rima na barriga.

    Composição: Antonio Barreto / Zebeto Corrêa. Essa informação está errada? Nos avise.

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