Come Mai

Quando o amor desmonta a pose em “Come Mai” dos 883

“Come Mai”, dos 883, transforma noites viradas e confusão em material criativo: “Le porto a casa… ne faccio melodia” (Eu as levo para casa... e faço delas melodia) mostra a paixão virando canção. Max Pezzali a compôs com a “cara” melodramática de Sanremo, mas, com os 883, ela soa íntima e desarmada. O narrador derruba a pose de autossuficiente e relata o impacto da chegada súbita do amor: “E poi all’improvviso sei arrivata tu” (E então, de repente, você chegou). Daí nascem impulsos quase obsessivos — seguir a pessoa pela madrugada, escrever “chilometri di lettere” (quilômetros de cartas), sonhar um romance “dentro un film” (dentro de um filme). Ele vive “una quotidiana guerra con la razionalità” (uma guerra diária com a racionalidade) e sabe que está perdendo o controle, mas não consegue parar.

O refrão cristaliza espanto e rendição: “Come mai, ma chi sarai” (Como pode ser, mas quem você será) soa menos como pergunta e mais como confissão, reforçada por “Notti intere ad aspettarti / pregando per un sì” (noites inteiras esperando por você / rezando por um sim). A letra encara a mudança de identidade diante do grupo: “Gli amici se sapessero… credevano che fossi quasi un dio” (Os amigos, se soubessem... achavam que eu era quase um deus). O jovem que evitava “nessuna storia inutile” (nenhuma história inútil) agora está vulnerável, revendo rotina e imagem. O DNA de balada clássica pensada para Sanremo aparece na teatralidade do refrão, mas a entrega coloquial dos 883 a torna próxima e crível — algo que ajudou a canção a explodir, render um dueto leve com Fiorello (refletido no clipe de festa) e ganhar versão em espanhol, “Quien seras” (Quem serás), que sublinha o gancho “ma chi sarai” como centro emocional em qualquer idioma.