Adamastor

Conflitos internos e sociais em "Adamastor" de A Garota Não

Em "Adamastor", A Garota Não utiliza a figura mítica do Adamastor, conhecida na literatura portuguesa como símbolo de obstáculos e forças destrutivas, para refletir sobre suas próprias tempestades emocionais. Ao se autodenominar "filha do Adamastor" e afirmar que suas "águas negras afundam o teu amor", a artista revela uma identificação com esse mito, mostrando-se como alguém que carrega dentro de si dores e inquietações capazes de impactar negativamente suas relações afetivas.

A letra aprofunda essa autopercepção ao se descrever como "uma fonte de problemas, fonte de inquietação" e ao pedir compreensão antes do julgamento: "O que vês lá dentro é dor, meu bem, e nada pouca". Esses versos evidenciam o sofrimento intenso e a sensação de inadequação da narradora. Na última estrofe, a canção amplia o olhar para a pressão social sobre o papel da mulher, contrapondo a mulher "que fica em casa" à "de fora" e questionando padrões de valor e desejo impostos pela sociedade. Assim, "Adamastor" articula de forma clara e sensível o peso das expectativas externas e das batalhas internas, usando a mitologia portuguesa como metáfora para conflitos pessoais e sociais.