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Enterrado Vivo

A286

Letra

    Aqui é frio, gelado, escuro e apertado
    Tem algo no ar de errado, caralho eu to sufocado
    Meus olhos estão fechados, tento abrir, mas não consigo
    Parece ser um sonho, devo ta dormindo
    Eu sinto calafrio, medo, arrepio
    Agonia, desespero, mó neurose puta que pariu
    Não to sentindo as perna, agora o corpo gela
    E cada minuto que passa o coração acelera
    Ouço grito, choro, sussurro de consolo
    E alguém no sufoco, inconformado pedindo socorro
    Parece miragem, ilusão, filme de ficção
    To vendo minha mãe, meus irmãos envolta do meu caixão
    E uma pá de lembranças vem no pensamento
    E eu não consigo entender os motivos pra tanto sofrimento
    E o mundão não deixou opção pras minhas falhas
    Sou eu por mim mesmo, se não viro caça e perco batalha
    Infância maldita, vida sofrida, esperança traída
    Se o certo é incerto de que lado tá a saída?
    Não tem pra onde correr, nem tente se esconder
    Ou você mata o mal, ou ele mata você
    Porque aqui, sua vida é cobrada toda hora
    E o tic tac do tempo conta derrotas e vitorias
    Passaporte pro céu, pode vir, aqui tem!
    E eu não escolho ninguém, vem com a cara e as de cem
    Te dão alivio, salvação, mundo de paraíso
    Mas depois de alguns segundos volta tudo do inicio
    Magoua, depressão, posso fundo sem luz
    Onde o céu vira inferno, nem tente agarrar a cruz
    Eu to ligado, é mó embaçado viver nesse estado
    Acuado, desempregado vivendo no couro mofado
    Aluguel atrasado, irmão assassinado
    Sem o básico, o minimo, mais um crucificado

    Enterrado vivo

    E quantas vezes eu precisei, implorei por um auxilio
    Quantas vezes o destino me crivo de um sorriso
    Me jogou na onde eu to, entre o ódio e o rancor
    E amor só fico pra quem se iludi morô?
    Mas que porra, querem um santo fudido e conformado,
    Paciente esperando a morte num corredor lotado
    Ou talvez, eu mesmo acabando com a sua cria
    Morrendo na troca de tiros, deixando os pedaços pra pericia
    E eu sei que é assim que o brasil quer me ver
    Doente, inútil, faminto, cansado de viver
    Saber que a felicidade existe, não me deixa feliz
    Pra quem vive de desgraça, nada mais faz sorrir
    Nada mais surpreende, nada me faz acreditar
    Que amanha você ri, se o ontem fez chorar
    Tipo a solidão e a fome, que maltrata e tortura
    Bem pior que a dor de doença sem cura
    Calma, da um tempo tenha fé esperança,
    Mas como se aqui o demônio virou brinquedo de criança?
    Enquanto você ri, seu semelhante chora
    Enquanto você reclama, seu semelhante implora
    Ta ruim, ta ruim? Então, dá que é bom pra mim!
    Pra quem viveu a onde você vê, não resiste ao próprio fim
    Não da pra suportar, não da mais pra aguentar
    Eu quero respirar, poder voltar pra lá
    E sentir, desfrutar do prazer de amar
    Mas o tempo fechou e sol não vai brilhar
    Eu to fraco, aflito, anêmico e raquítico
    Sofrendo ao relento com papelão e um saco de lixo
    Jogado em qualquer praça, tendo um ataque de convulsão
    Esperando que o filho da puta tenha dó e compaixão
    Corpo, mente, coração, nada mais tem sentido
    Quando se acorda e vê que ta enterrado vivo!

    Enterrado vivo, enterrado vivo


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