Kajra Re

“Kajra Re”: flerte encenado, símbolos e festa popular

O charme de “Kajra Re” está menos nos “olhos pretos” e mais no jogo cênico. A cena emula uma mehfil, com a plateia participando (“Public: wah wah” (Público: bravo!)) e a algazarra da expressão “raita fail gaya” (virou bagunça, espalhou geral). No filme Bunty Aur Babli, Aishwarya entra como cortesã que provoca Amitabh Bachchan e despreza Abhishek, enquanto a direção de Vaibhavi Merchant fixa o tom com o “Aye handsome” (ei, bonitão) — o flerte atrevido que a letra encena. A fusão de ghazal, qawwali e filmi, com o sitar destacando o sabor tradicional, sustenta esse duelo de olhares em clima de celebração, com coro em chamada e resposta empurrando a tensão para riso, suor e dança. Alisha Chinai já observou que a aura “angelical” de Aishwarya ajudou a transformar a faixa em um momento pop icônico, replicado em recriações e homenagens.

“Kajra” é o kohl que dá nome ao refrão e vira metáfora de poder: “tere kaare kaare naina” (seus olhos bem pretos) ferem e aprisionam. A letra é tátil e olfativa: promessas “escritas em kohl”, a marca dos lábios no lenço, “kimam” (tempero aromático do paan) que perfuma a fala do amado e “garmiyon ki luu” (vento quente do verão do norte da Índia) sugerindo uma chegada ardente e perigosa. A “angraai” (espreguiçada sensual) não deve “se quebrar”: ela quer que ele venha logo para acender a faísca. O palco urbano — “chauk” (praça/entroncamento) e “Purani Dilli” (Velha Délhi) — evoca bazares, qawwali e devoção; “kali kamli wali” (a do manto preto) pode remeter ao epíteto de Krishna ou a uma imagem sufi. Entre súplica e provocação — “nazar hata le” (desvia o olhar) versus o olhar que trespassa —, a canção dramatiza o vai e vem do desejo que vemos entre Aishwarya, Amitabh e Abhishek no clipe.