Veterano (part. Major RD e Julinho Ksd)

Vivência e resistência nas ruas em “Veterano (part. Major RD e Julinho Ksd)”

A música “Veterano (part. Major RD e Julinho Ksd)” de AJAXX retrata de forma direta a realidade de quem sobrevive nas ruas, misturando denúncia social com orgulho da própria trajetória. Logo no início, a letra destaca a experiência de quem já enfrentou muitos desafios: “Conheço todas a esquinas / Eu ando na selva / Por isso, eu não vou virar presa”. A ideia de “selva” urbana reforça o clima de sobrevivência, enquanto o conselho do veterano sobre o crime ser “difícil” serve como alerta para não cair nesse caminho. O trecho que menciona um corpo jogado no lixo, com referência ao “short do Vasco”, expõe de maneira crua a violência cotidiana, mostrando que fama ou coragem não garantem proteção nas ruas, especialmente quando “encontrar um de peça” (alguém armado) pode ser fatal.

Major RD traz um tom de resistência e crítica ao racismo estrutural, como em “Se tu for preto, a polícia, no normal, te espanca / Não me revista que eu faço Pix / Ok, racista, tá aqui tua janta”. Ele ironiza a corrupção policial e a violência contra pessoas negras, usando sarcasmo para escancarar essa realidade. As referências à cena musical, como “Quem carrega o melhor show da cena e faz a roda punk do mal?” e a menção ao Djonga, reforçam o papel dos artistas como vozes autênticas, que não se rendem ao hype passageiro. O verso “Hype é meu peru de boné, minha arte é atemporal” zomba da busca por fama vazia, defendendo autenticidade e resistência cultural.

Julinho KSD, com seu flow em crioulo e português, traz a influência cabo-verdiana e a vivência de imigrante, misturando referências de rua, festas e códigos locais. Expressões como “vibe sta fixe” e “pouco a pouco, o atabaque encaixa” mostram a mistura de culturas e a força da música como elemento de união. O refrão repetido reforça que, apesar das dificuldades, a cultura e a resistência vão se encaixando, pouco a pouco, na vida de quem está à margem. No geral, “Veterano” é um retrato direto e politizado da luta diária, da ancestralidade e da força de quem não se deixa abater pelo sistema.